sexta-feira, 17 de maio de 2013


Estado de S. Paulo - 17.05.2013.

Agentes da ditadura são acusados por matar Mario Alves em 1970

SÃO PAULO - O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro denunciou nesta quinta-feira, 16, cinco agentes do regime militar acusados pelo sequestro qualificado, tortura e morte, em 16 de janeiro de 1970, do jornalista e militante de esquerda Mario Alves. Segundo testemunhas e documentos obtidos pelo MPF, Alves, que tinha 47 anos e era um dos líderes mais importantes do Partido Comunista Brasileiro, foi capturado na rua, perto de sua casa na zona norte do Rio de Janeiro e "barbaramente espancado" até de madrugada nas dependências do DOI-Codi do Rio.

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Exatamente um ano depois - a 20 de janeiro de 1971 - foi preso, também no Rio, e morto pelo mesmo DOI-Codi o então deputado Rubens Paiva.
Os cinco acusados agora denunciados pelo MPF são Luiz Mário Valle Correia Lima, Luiz Timótheo de Lima, Roberto Augusto Duque Estrada ("Capitão Duque Estrada"), Dulene Aleixo Garcez dos Reis e Valter Jacarandá. Os procuradores pedem que todos eles sejam condenados pelo crime de sequestro qualificado, com o reconhecimento das circunstâncias agravantes (entre as quais motivo torpe, tortura e abuso de autoridade). A denúncia propõe ainda a perda do cargo público dos denunciados, cancelamento de suas aposentadorias ou qualquer provento remunerado que ainda recebam - e, por fim, uma indenização de R$ 100 mil à família.
Segundo a denúncia, Alves, que militou desde os anos 50 ao lado de figuras como Carlos Marighella e Jacob Gorender, saiu de casa na noite daquele 16 de janeiro e não voltou mais. Foi capturado e levado ao DOI-Codi, na rua Barão de Mesquita. Na manhã seguinte, prossegue o relato do MPF, ele foi visto pela última vez por outros presos numa cela, em péssimo estado mas ainda vivo.
Comunista filiado ao PC na Bahia, já aos 15 anos - em pleno Estado Novo - o baiano de Sento Sé, onde nasceu em 1923, participava de campanhas estudantis contra a ditadura Vargas. Depois de um ano em Moscou, voltou já para o comitê central do PCB, onde se tornou diretor do jornal Novos Rumos. Preso em 1964, libertado por um habeas corpus, juntou-se Apolônio de Carvalho e Gorender, entre outros, para fundar o PCBR e organizar a resistência armada contra o regime militar.

Em 1987, a União reconheceu sua responsabilidade civil por sua prisão, morte e danos morais. Foi o primeiro caso em que a União reconheceu sua responsabilidade por um desaparecido político.