domingo, 30 de março de 2014


O REGIME DE 1964 E O ESTADO DE DIREITO NO BRASIL
José Brendan Macdonald
Abril de 2014

Nestes dias o país está lembrado da inserção do que chamaremos o Regime de 1964, isso evidentemente em razão do cinqüentenário do mesmo.  Pois na madrugada de 1º de abril de 1964, elementos subversivos das forças armadas depõem João Goulart, o então presidente da República que chegara a seu cargo por ter sido vice-presidente já que algum tempo antes assumira esse cargo em substituição a Janio Quadros que acabara de renunciar em um momento de tensão política no país em razão de disputas entre conservadores e progressistas.  A Constituição de 1946 então em vigor deixava claro que o procedimento certo em tais casos seria a instalação do vice-presidente como presidente.
Não entraremos nos não poucos pormenores da história dos idos de março de 1964 que culminaram no golpe de Estado que hoje é geralmente condenado como uma afronta à democracia, mesmo democracia no sentido burguês da expressão.  Nosso propósito é fazer uma revisão não aprofundada do golpe e da ditadura que ele instalou e o que isso significa para a evolução, ou melhor, a involução da democracia.
A alternância entre democracia e ditadura caracterizaram nossa história política durante não pouco tempo depois da queda da República Velha em 1930.  O próprio presidente constitucional Getúlio Vargas deu o auto-golpe em 1937 até ser obrigado pelas forças armadas, que já não o apoiavam, a renunciar.  Assim houve o Estado Novo (1937-1945), o período ditatorial de Vargas.  De 1945 a 1964 houve um período de democracia formal, durante parte do qual o próprio Vargas foi presidente pelo voto popular.  Em 1964 se instala uma ditadura: o Presidente João Goulart é deposto e a próxima eleição para presidente ocorrerá somente em 1990.  De 1964 a 1985 o país teve cinco presidentes fardados.  Num período de transição para a democracia formal (1985-1990) houve um presidente civil, de plena confiança dos civis e militares conservadores, que não queriam ser perturbados por uma democratização profunda que desse vez clara às necessidades populares e assim pudesse limitar privilégios das elites.
Semelhante alternância infelizmente ocorria nos nossos vizinhos platenses, ou seja, na Argentina e no Uruguai, mais ou menos na mesma época.  Além dos Andes o Chile, orgulhoso de suas tradições democráticas, pela primeira vez caiu nas garras de um general sanguinário, Augusto Pinochet, finalmente em 1973, produto de um golpe cívico-militar de uma violência ímpar. 
Note-se que preferimos falar em golpe de Estado cívico-militar ao invés de apenas golpe militar, que é geralmente o que se diz.  Em 1964 vários membros da nossa elite, não raro políticos profissionais eles mesmos e com fortes interesses traduzidos pelos grandes negócios, batem nas portas dos quartéis e convidam alguns oficiais a lançar a aventura de um golpe de Estado para instalar o que curiosamente chamam de Revolução para combater as mazelas do “comunismo ateu.”  Certamente havia oficiais militares que não aprovavam esse golpe à democracia.  Mas foram condenados ao silencio e em alguns casos a algo pior também.  Quanto à população em geral, isto é, a população civil, o número de pessoas favoráveis à deposição do Presidente Jango, como era conhecido João Goulart, era grande na classe média, tanto que em março de 1964 foi organizada a Marcha por Deus e a Família com milhares de participantes.  Mas lembremo-nos que os pobres eram de longe a maioria da população.  Para eles a ditadura instalada agrediam os seus interesses.  Mas o golpe de Estado se concretizou.  Agora qualquer oposição era tarde. 
Por que se recorreu à medida extrema do golpe de Estado? 
Havia acima de tudo o temor das elites às chamadas reformas de base promulgadas pelo governo João Goulart em março de 1964.  Não pretendemos   detalhá-las.  Alguns comentários, queremos acreditar, serão suficientes.
O presidente insistia numa:
- reforma agrária: a extensão do Direito trabalhista aos trabalhadores rurais e não mais só para os trabalhadores urbanos; terras situadas às margens de rodovias e ferrovias federais que não cumprissem a função social da propriedade seriam nacionalizadas e assim pagas com títulos da dívida pública, o que exigiria uma reforma constitucional já que a Constituição exigia pagamento prévio e em dinheiro;
- reforma urbana: visando a utilização do solo urbano, a ordenação e equipamento das aglomerações urbanas e “fornecimento de habitação condigna a todas as famílias”;
- reforma educacional: visando principalmente erradicar o analfabetismo que ainda tinha um nível elevadíssimo;
- reforma fiscal: visando entre outras coisas o controle e limitação da remessa de lucros para o exterior;
- reforma eleitoral: visando a extensão do direito de voto aos analfabetos e militares de baixa patente; pensava-se na legalização do Partido Comunista Brasileiro também;
- reforma bancaria: visando ampliar o acesso ao crédito pelos produtores.
É claro que a maioria dessas propostas não podia agradar à elite nacional nem aos seus parceiros estrangeiros.  E envolveriam custos e daí impostos.  O presidente estaria fazendo o jogo dos comunistas muito embora ele próprio não fosse comunista.  Hoje as elites falam muito mal de supostos terroristas.  Naquele tempo o nome feio era comunistas se bem que este último termo também pode ser anátema ainda hoje.   
Haveria colaboração estrangeira, notoriamente norte-americana, no golpe de Estado de 1964?  Há muito tempo se sabe que os Estados Unidos tinham uma frota de prontidão no Caribe, o que seria uma arma auxiliar importante desde que tido como necessário e houvesse a invenção de um incidente anti-americano no país.  Tal recurso não foi de fato necessário mas a precaução pairava no ar.  Lincoln Gordon, o embaixador dos Estados Unidos no país, estava por dentro de boa parte da trama de um golpe de Estado e deixava o governo de seu país a par. 
Toda a preocupação imperial dos Estados Unidos com a America Latina fazia e faz parte de um quadro geral.  Mais do que a África e a Ásia, a América Latina enquanto colônia em potencial é o que chama a atenção daquele país.  O Reino Unido, França, Bélgica e outros países que se especializem na exploração do chamado Velho Mundo, deixando a America Latina em segundo lugar.  E tal exploração inevitavelmente exige a intromissão dos fortes em muitos assuntos que de direito não lhes competiriam. 
Havia acontecimentos no Brasil que muito preocupavam a elite brasileira e seus aliados imperiais. 
Após a Segunda Guerra Mundial, e notoriamente a partir de 1954, foram fundados grupos que passariam a ser chamados Ligas Camponeses em Pernambuco para em seguida se multiplicar em vários estados do Nordeste.  As Ligas visavam principalmente facilitar o pagamento de despesas funerárias para os camponeses, prestar-lhes assistência médica, jurídica e educacional, formar cooperativas.  Como se vê, nada disso em tese feriria os interesses da classe dominante.  Mas como as Ligas traçavam sua origem ao trabalho do Partido Comunista Brasileiro em 1946, eram inadmissíveis para as classes dominantes sempre marcadas por um notório anti-comunismo.  As Ligas foram eliminadas então pouco depois do golpe de Estado de 1964. 
Também havia políticos profissionais cujas atitudes irritavam e em alguma medida atemorizavam as elites.  Leonel Brizola, cunhado do Presidente João Goulart, era deputado federal e pressionava o Presidente a promover as reformas de base.  No histórico comício de 13 de março de 1964 ocorrido na praça do Central do Brasil no Rio de Janeiro, em discurso inflamado condenou o conservadorismo do Congresso Nacional e exigiu a convocação de uma assembléia constituinte.  Outro político que irritava as poderosas forças conservadoras era Miguel Arraes, governador de Pernambuco.  Conseguiu obrigar as oligarquias rurais de seu estado a pagarem o salário mínimo a seus trabalhadores e promoveu sindicatos rurais, associações comunitárias e ligas camponesas.  Mais do que qualquer pecado mortal, as posturas de políticos como Brizola e Arraes foram tidos como sacrilégio. 
Aos sacrílegos só restam as chamas do inferno.  Assim, cidadãos como Leonel Brizola, Miguel Arraes e inúmeros outros não mencionados aqui só poderiam ganhar a prisão e o exílio. 
Assim o regime instalado no país em abril de 1964 moldou boa parte do posterior destino do país.  Ele não respeitou um estado de direito e criou seus próprios “atos institucionais”.  Mas com o tempo o próprio regime percebeu que sua popularidade estava em jogo.  Em 1979 – 15 longos anos após o golpe de Estado  – foi declarada uma anistia a favor de presos políticos.  E, repetimos, foi somente em 1990 que foi eleito um presidente da República pelo voto popular.  A ditadura, portanto, gozou de um longuíssimo período para traçar o destino do país a seu gosto.
Se o golpe de estado e a subseqüente instalação da ditadura são expedientes freqüentes em boa parte dos países do chamado Terceiro Mundo1, que dizer do que ocorre nos países mais industrializados nas últimas décadas?  Ao que parece, até o presente momento as elites desses países não acharam necessário recorrer àquilo que seria facilmente reconhecido como ditadura.  Há, porém, uma tendência perigosa para os direitos democráticos nos Estados Unidos.  Uma recente legislação que fere a própria Constituição mas que (não surpreendentemente) não é criticada pela grande mídia é aplicada lá às vezes.  Trata-se da Lei Patriota de 2001 que limita sobremaneira ao réu o direito de defesa quando se trata de assuntos de segurança nacional.2  Este pesquisador não sabe se algo semelhante já existe em outros países industrializados.  Isso deve depender provavelmente do grau de êxito de militantes lá – quando os há -  a favor de boa parte dos direitos humanos.  Trata-se de um assunto secundário para o presente artigo nosso.  Fizemos referência a ela para evidenciar o fato de que um apreço ao valor intrínseco do estado de direito é necessário para garantir que a justiça seja feita – no Brasil e fora.  Não é à toa que nossa classe dominante moldou uma legislação a seu gosto mesmo quando a impôs sem respeitar as exigências clássicas da democracia – não importa quão imperfeita esta – que o mundo conhece até hoje. 
Será preciso um novo momento histórico antes que se instale um Direito conseqüente para a pessoa comum, para o grosso dos cidadãos.  É percebendo a natureza insatisfatória do nosso Direito que perceberemos também a necessidade de pensar uma nova civilização mais adequada a práticas jurídicas mais claramente consoantes com as necessidades da maioria.

NOTAS

  1. Embora a usemos, reconhecemos o estado obsoleto desta expressão, usamo-la por falta de outro em uso hoje.  Ela era válida sim quando havia o bloco capitalista e o bloco não capitalista (este último composto principalmente pela União Soviética e China mas não só por elas).
  2. Ver, por exemplo, Sheldon Wolin, Democracy incorporated: Managed democracy and the specter of inverted totalitarianism, Princeton, EUA, Princeton University Press, 2008.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Brasil

"Luta armada foi legítima, mas um erro político", diz ex-militante

Um dos idealizadores do sequestro do embaixador americano em 1969, Cid Benjamin fala sem arrependimento da militância, mas reconhece erros. Sobre torturadores, garante não guardar ódio, mas quer vê-los julgados.
Quatro de setembro de 1969, auge dos Anos de Chumbo. Numa ação sem precedentes na história brasileira, o movimento MR-8, uma dissidência do Partido Comunista, sequestra o então embaixador americano no país, Charles Burke Elbrick. Para soltá-lo, duas exigências: a libertação de 15 presos políticos e a publicação de um manifesto na imprensa.
O regime não demorou a ceder: menos de 48 horas, os presos foram libertados e o texto, publicado. Por trás da ação estava um grupo de jovens originários do movimento estudantil, entre eles Cid Benjamin, então com apenas 21 anos. Ele foi o idealizador – ao lado do mais tarde ministro Franklin Martins – e um dos principais executores da ação.
Meses mais tarde, Cid foi preso. Por sua militância, pagou com isolamento, tortura e exílio – foram quase dez anos entre Argélia, Cuba, Chile e Suécia. Hoje, aos 65 anos, jornalista e diretor de comunicação da Comissão da Verdade do Rio, ele fala sem arrependimento e sem revanchismo sobre o passado – como sugere o título de seu livro, Gracias a la vida – Memórias de um militante.
Cid diz não guardar ódio de seus torturadores, mas quer vê-los julgados. A luta armada, afirma, foi um erro político, porém uma alternativa legítima para lutar contra um regime ditatorial. E sobre o embaixador, admite: "Nós o teríamos matado se as exigências não fossem atendidas."
Retrato logo após prisão, em 1970
DW: Hoje há vozes questionando o comprometimento daquela esquerda armada com a democracia. O argumento é de que as intenções dela não eram muito mais democráticas que as do regime. Você concorda?
Cid Benjamin: Não. Os mesmos que deram o golpe em 1964 levaram Getúlio Vargas ao suicídio em 1954; tentaram impedir a posse do Juscelino Kubitschek em 1956 e do Jango em 1961; e depois deram o golpe em 1964. Com o AI-5, eles tornaram um regime que já era ditatorial em algo muito mais duro. E foi justamente esse endurecimento da ditadura que fez com que uma parcela dos opositores, que não estavam na luta armada inicialmente, acabasse optando por esse caminho.
Foi o melhor caminho?
Foi um caminho politicamente errado, mas não do ponto de vista da legitimidade. Foi legítimo pegar em armas para combater um regime de opressão. Isso é reconhecido pela Carta de Direitos Humanos da ONU e pela Doutrina Social da Igreja. Foi uma avaliação política incorreta naquele momento no Brasil. Não se teria condições de conseguir um amplo apoio popular e, com isso, derrubar a ditadura. Mas foi a forma possível depois do acirramento do regime militar. Depois, os militares tentaram se igualar e dizer que éramos todos antidemocráticos, o que não corresponde à verdade.
Até que ponto a luta armada levou a um maior endurecimento do regime?
Muito antes de se pensar em luta armada, os golpistas, como eu disse, já vinham tentando dar um golpe. E depois, já dentro da ditadura, a linha dura foi tomando corpo, começando com a saída do [primeiro presidente da ditadura, Humberto de Alencar] Castelo Branco, que era mais moderado. A luta armada só ganhou peso e alguma relevância social depois do AI-5, quando outros canais de participação política e exercício da oposição foram fechados.
A luta armada acabou então sendo algo inevitável?
As manifestações bateram no teto. Os canais institucionais e de luta legal foram muito restringidos. Havia o exemplo recente da Revolução Cubana e do Vietnã, onde a luta armada do povo conseguiu expulsar o invasor americano. Isso tudo influenciou. Agora, se não houvesse o endurecimento do regime, a luta armada não teria acontecido da forma como aconteceu.
Na época, você, então com pouco mais de 20 anos, tinha noção de que vencer era quase impossível?
Achávamos que seria uma luta árdua, longa, mas com alguma chance de vitória. E, de certa maneira, Cuba e Vietnã serviam como alento. Mostravam que, através da guerrilha, o fraco poderia enfrentar e vencer o mais forte. Se, na época, tivéssemos a percepção de que seria uma derrota, não teríamos tomado aquele caminho.
Cid (primeiro de pé à direita) e os outros 39 libertados em troca do embaixador alemão, em 1970
Quando surgiu a ideia de sequestrar o embaixador?
A ideia foi minha e do [jornalista e ex-ministro] Franklin Martins. Uma vez, estávamos conversando juntos no Rio quando o carro com a bandeirinha dos EUA no capô passou pela gente, e reparamos que o embaixador fazia todo dia o mesmo trajeto, sem segurança. Já havia, na época, uma preocupação nossa em libertar presos.
A captura foi relativamente fácil...
A captura foi fácil, a devolução é que foi difícil. A casa foi localizada e vigiada. Quando nós saímos com o embaixador, eles vieram atrás. Houve cenas típicas de filmes policiais, com perseguições, carros avançando sinal, subindo pela calçada. Foi complicado. Mas, no final, ninguém foi preso.
Vocês pediram a leitura de um manifesto na TV e a libertação de 15 presos. Se o regime não tivesse atendido, o que vocês teriam feito?
Nós o teríamos matado se as exigências não fossem atendidas. Isso, dito hoje, parece estranho, mas nós tínhamos uma avaliação tranquila e clara de que os militares aceitariam nossas exigências, dado o grau de subserviência da ditadura militar aos Estados Unidos.
Ele não entregou vocês depois...
Quando foi questionado se poderia nos identificar, ele disse que não poderia, porque nós só falávamos com ele com capuz. O que não era verdade. Tínhamos uma relação cordial com ele no cativeiro. Conosco, ele criticava a tortura e a censura. Depois ele deu declarações muito elogiosas a nosso respeito. Disse que éramos jovens, idealistas, queríamos o melhor para o país. Naturalmente ele discordava dos métodos, mas nos respeitava e considerava corajosos.
Pela militância, você pagou com tortura, exílio, isolamento e prisão. Arrepende-se?
Fui preso meses após o sequestro. Fiquei dois meses na prisão e, em junho de1970, fui trocado pelo embaixador alemão. Não me arrependo. Valeu a pena. Eu faria tudo de novo, mas de forma diferente. Não sou incapaz de perceber erros em nossa trajetória. Mas o rumo geral da trajetória de militância política, de resistência à ditadura, isso eu mantenho e não me arrependo em nada.
Ficha de Cid na polícia do Rio: "um dos mais perigosos da dissidência"
Hoje você ainda se declara comunista?
A partir da experiência com os países do Leste Europeu, eu, que sempre me declarei comunista, não me declaro mais. Na cabeça das pessoas, comunismo ficou sendo isso, e isso não tem nada a ver com o que eu quero. Eu quero um regime socialista, com democracia, com liberdade e pluripartidarismo.
Na época da militância vocês já discutiam isso?
Nós tínhamos uma visão crítica. Nossa organização, o MR-8, uma dissidência do Partido Comunista, criticava a invasão da Tchecoslováquia e o esmagamento da Primavera de Praga pelos soviéticos. Nós tínhamos uma percepção crítica quanto aos regimes do Leste Europeu. Não tão crítica como hoje, naturalmente, já que esses regimes se mostraram piores do que pareciam.
Você gosta da forma como lidamos com os crimes da ditadura?
Nós estamos atrasadíssimos. A Comissão da Verdade foi criada só no ano passado. E a ditadura acabou em 1985. Outros países latino-americanos estão muito mais avançados não só na apuração, como na punição dos responsáveis por crimes de lesa-humanidade.
A que se deve isso?
À forma como a ditadura acabou no Brasil. Os militares controlaram o processo de saída de cena. Quando o [Ernesto] Geisel começa a chamada distensão, a ditadura só vai acabar dez anos depois. Eles tentaram manter esse processo sob controle, seja para evitar mudanças sociais mais profundas, seja para evitar o conhecimento dos crimes. As comissões da verdade teriam que ter sido criadas antes.
No seu livro, você usa um tom sem revanchismo, às vezes conciliador, sobre o passado.
Eu não me considero conciliador. Não tenho revanchismo nem ódio pessoal de quem me torturou. Acho que as coisas têm que vir à tona, eles têm que sentar no banco dos réus, mas não porque eu tenho rancor e ressentimento, mas porque o futuro da tortura está ligado ao futuro dos torturadores. E é fundamental que o país saiba o que aconteceu nos porões e que os responsáveis sejam julgados, mesmo que depois sejam anistiados. É um ciclo que tem que ser cumprido.

DW.DE

segunda-feira, 24 de março de 2014

Ato em memória das vítimas da ditadura.

Rumo a Maceió19/03/2014 | 23:58
36º CNJ terá ato em memória das vítimas da ditadura e contra agressões a jornalistas
 
A Comissão Organizadora do 36º Congresso Nacional dos Jornalistas - que será em Maceió (AL), de 2 a 6 de abril - concentra-se nos preparativos finais da programação e na recepção das delegações de todo o país. Antecedendo a abertura do evento haverá o I Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial. Em ato político no Monumento ao Menestrel, jornalistas homenagearão vitimas da ditadura e marcarão as atividades do Dia do Jornalista em protesto contra as agressões à categoria no Brasil.

Além de receber o 36º Congresso Nacional dos Jornalistas, Maceió também sediará o I Encontro Nacional dos Jornalistas pela Igualdade Racial (I Enjira), que acontecerá no dia 2, das 8 às 17h, no Centro de Convenções Ruth Cardoso, em Jaraguá, com o tema “Os jornalistas e a construção da igualdade racial na Mídia”. O evento vai reunir cerca de 100 participantes entre os integrantes das Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojiras) de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Alagoas, Paraíba e Bahia, além do Núcleo de Jornalistas Afrobrasileiros do Rio Grande do Sul e profissionais que discutem a temática nos demais sindicatos da categoria e em outros Estados do Brasil.

Jornalismo e democracia
Com o tema central " O Jornalismo, o Jornalista e a Democracia", o 36º CNJ contará com uma programaçãodiversificada. O sociólogo francês, Dominique Wolton, será o conferencista da abertura do Congresso, na noite do dia 2 de abril, no Centro de Convenções Ruth Cardoso, em Maceió. Reconhecido como um dos grandes especialistas europeus em política e comunicação, ele abordará o tema “Jornalismo para humanizar a comunicação”.

Símbolos da resistência dos jornalistas brasileiros à ditadura, como Audálio Dantas e Raimundo Pereira, são presenças garantidas no evento, como também o ministro dos Esportes, Aldo Arantes. Durante o evento, o jornalista, professor e pesquisador José Marques de Melo será homenageado com a Comenda de Honra da FENAJ por sua trajetória de contribuição com o desenvolvimento do jornalismo e com a organização da categoria.

O presidente da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), Jim Boumelha, a vice-presidente da Federação dos Jornalistas da América Latina e do Caribe (FEPALC) Zuliana Lainez, juntamente com a 1ª vice-presidente da FENAJ, Maria José Braga, traçarão um perfil das lutas empreendidas pela categoria em nível internacional e no Brasil para garantir a segurança dos jornalistas no exercício de suas funções.

Entre os palestrantes confirmados mais recentemente estão Francisco José, repórter especial da Rede Globo, com seis copas do mundo no currículo, para falar sobre o tema “Jornalismo Esportivo – A logística de um repórter na Copa do Mundo” e o diretor de redação do jornal O Globo, Ascânio Seleme, que participará do painel "Jornalismo Novo ou Novas Plataformas?".

Segundo a 2º vice-presidente da FENAJ e presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, Valdice Gomes, para fechar o "time de peso" que participará das palestras e debates, faltam ainda as confirmações do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro e presidente do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, Dom Orani Tempesta, e do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para o painel "Regular para democratizar a comunicação". "São presenças muito aguardadas que engrandecerão ainda mais o nosso Congresso e que esperamos que confirmem nas próximas horas", adianta Valdice.

Ela acrescenta que, no dia 4 de abril, às 19h, no Monumento ao Menestrel Teotônio Vilela, haverá um ato político cultural para marcar os 50 anos do golpe de 1964 e as atividades do Dia do Jornalista (7 de abril) em contraponto à crescente violência contra jornalistas no Brasil. "Será um ato aberto a toda a sociedade, com participação de membros da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão da Verdade dos Jornalistas, onde faremos um tributo às vitimas da ditadura", conta.

Inscrições
As inscrições de delegados ao 36º Congresso Nacional dos Jornalistas encerraram-se no dia 17 de março. Mas prosseguemabertas para os interessados em participar como observadores (jornalistas e estudantes).

Últimas notícias:
20/03/2014 - GT encerra trabalhos com recomendações para combate à violência contra profissionais da comunicação
19/03/2014 - 36º CNJ terá ato em memória das vítimas da ditadura e contra agressões a jornalistas
19/03/2014 - Encontro do FNPJ destaca diretrizes curriculares de jornalismo
Fonte: FENAJ.

domingo, 23 de março de 2014

Na prática à práxis marxista é outra
Tomislav R. FemenickMestre em economia, contador e historiador

Práxis é uma forma de pensamento que procura explicar a conduta humana em relação à política, à economia e à moral. Se buscarmos suas raízes as encontramos nas ideias de Platão, que procurou direcionar a ação política pela teoria. Já Aristóteles entendia que a conduta humana, em relação à vida e suas relações socioeconômicas, se caracteriza por uma objetividade concreta e não por reflexões teóricas. O próximo grande salto foi dado por Hegel, que definiu a práxis como um processo de interação da objetividade e da subjetividade tendo por base o pensamento e a ação do homem, como agente das transformações sociais.
Já a práxis marxista, é um conceito que procura explicar as ações humanas que objetivam transformar a sociedade. Marx postula a existência de uma teleológica nas ações do homem, relacionando ações com causas objetivas, fato que explicaria as grandes lutas revolucionárias. A práxis marxista (aqui simplificada) é a base da argumentação que dá suporte a outro pensamento central do marxismo: o conceito de modos de produção, uma concepção abstrato-formal, um processo de ascensão do concreto para o abstrato, de descida progressiva do abstrato para o concreto e, finalmente, de comprovação empírica.
Em “A ideologia alemã”, Marx e Engels afirmam que a forma como a sociedade está organizada para a produção de bens identifica uma “fase de desenvolvimento das suas forcas produtivas materiais” que, por sua vez, determina as relações de produção entre os homens. Sobre essa estrutura econômica é que se ergueria uma supraestrutura social, alicerçada em um ordenamento político que se fundamentaria em formulações jurídicas, ambos (ordenamento político e formulações jurídicas) resultantes da consciência da sociedade, esta também consequência das relações de produção. Assim, o “processo da vida social, política e espiritual em geral” seria resultante do modo de produção vigente. Todavia esse estado de coisa teria caráter precário, pois a própria evolução das relações de produção criariam choques de interesses entre as classes sociais, abrindo, “assim, uma época de revolução social”.
Esse posicionamento deu ensejo ao desenvolvimento da teoria do “etapismo”. Engels foi o primeiro (Origen de la familia, de la propriedad privada y del Estado) a apontar para o gradualismo, sendo seguido por Lênin (Acerca del Estado, in Marx, Engels e el marxismo). Enquanto o primeiro tomou como campo teórico a Europa ocidental, o segundo deu uma amplitude geral ao conceito dos degraus evolutivos. Porém o “etapismo” só foi sacramentado como dogma do marxismo quando Stalin (Materialismo dialético e materialismo histórico) reconheceu como históricos somente “cinco tipos fundamentais de relações de produção: a comuna primitiva, a escravatura, o regime feudal, o regime capitalista e o regime socialista”.
Ora, todas essas contorções teóricas tiveram por objetivo sentenciar o fim do capitalismo, que seria vitima de si mesmo: o crescimento do capital exige o crescimento do proletariado que, vivendo na miséria, se engajaria na luta pela derrubada do regime, fazendo surgir o socialismo que viria no bojo da ditadura do proletariado. A realidade contradisse toda essa argumentação. Embora não o ideal, nos regimes verdadeiramente capitalistas houve um crescimento continuado do padrão de vida dos trabalhadores, enquanto que o socialismo “científico” veio e foi embora. Somente restaram Cuba e a Coréia do Norte, simples ditaduras hereditárias. China e Vietnã só têm de comunista o nome do partido no poder.

Tribuna do Norte. Natal, 23 mar 2014.

O Mossoroense. Mossoró, 15 mar 2014.

sexta-feira, 21 de março de 2014

A sanha ditatorial brasileira - 1º Ato satânico.

1. Luiz Carlos Prestes
2. João Belchior Marques Goulart
3. Janio da Silva Quadros
4. Miguel Arrais de Alencar
5. Darci Ribeiro
6. Raul Riff
7. Waldir Pires
8. Gen. R/1 Luiz Gonzaga de Oliveira Leite
9. Gen. R/1 Sampson da Nobrega Sampaio
10. Leonel de Moura Brizola
11. Clodsmith Riani
12. Clodomir Moraes
13. Hercules Correa dos Reis
14. Dante Pelacani
15. Oswaldo Pacheco da Silva
16. Samuel Wainer
17. Santos Vahlis
18. Lincoln Cordeiro Oest
19. Heber Maranhão
20. José Campelo Filho
21. Desembargador Osm Duarte Pereira
22. Ministro José de Aguiar Dias
23. Francisco Mangabeira
24. Jesus Soares Pereira
25. Hugo Regis dos Reis
26. Jairo José Farias
27. José Jofily
28. Celso Furtado
29. Marechal R/1 Osvino Ferreir Alves
30. Josué de Castro
31. João Pinheiro Neto
32. Antonio Garcia Filho
33. Djalma Maranhão
34. Huberto Menezes Pinheiro
35. Ubaldino Santos
36. Raphael Martinelli
37. Raimundo Castelo de Souza
38. Rubens Pinho Teixeira
39. Felipe Ramos Rodrigues
40. Alvaro Ventura
41. Antonio Pereira Netto
42. João Batista Gomes
43. Ademar Latrilha
44. Feliciano Honorato Wanderley
45. Othon Canedo Lopes
46. Paulo de Santana
47. Luiz Hugo Guimarães
48. Luiz Viegas da Mota Lima
49. Severino Schnaipp
50. Meçando Rachid
51. Newton Oliveira
52. Demistóclides Baptista
53. Roberto Morena
54. Benedicto Cerqueira
55. Humberto Melo Bastos
56. Hermes Caíres de Brito
57. Aluisio Palhano Pedreira Ferreira
58. Salvador Romano Lossaco
59. Olympio Fernandes de Mello
60. Waldir Gomes dos Santos
61. Amauri Silva
62. Almino Monteiro Alvares Afonso
63. José Guimarães Neiva Moreira
64. Clovis Ferro Costa
65. Silvio Leopoldo de Macambira Braga
66. Adahil Barreto Cavalcante
67. Abelardo de Araujo Jurema
68. Arthur Lima Cavalcante
69. Francisco Julião
70. José Lamartine Tavora
71. Murilo Costa Rego
72. Pelopidas Silveira
73. Barros Barreto
74. Waldemar Alves
75. Henrique Cordeiro Oest
76. Fernando de Sant’Ana
77. Helio Vitor Ramos
78. João Doria
79. Mario Soares Lima
80. Ramon de Oliveira Netto
81. Luiz Fernando Bocayuva Cunha
82. Luiz Gonzaga de Paiva Muniz
83. Adão Pereira Nunes
84. Eloy Angelo Coutinho Dutra
85. Marco Antonio
86. Max da Costa Santos
87. Roland Cavalcante Albaquerque Corbisier
88. Sergio Nunes de Magalhães Junior
89. José Aparecido de Oliveira
90. Plinio Soares de Arruda Sampaio
91. José Antonio Rogé Ferreira
92. Rubens Paiva
93. Paulo de Tarso Santos
94. Moysés Lupion
95. Milton Garcia Dutra
96. Ney Ortiz Borges
97. Paulo Mincaroni
98. Armando Temperani Pereira
99. Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo
100. José Anselmo dos Santos
Rio de Janeiro, GB., 10 de abril de 1964. – Arthur da Costa e Silva, General-de-Exército – Francisco de Assis Correia de Mello, TenenteBrigadeiro – Augusto Hamann Rademaker Grunewald, Vice-Almirante.

Sent from my iPad

Obs: Duas semanas após o golpe de 1964, o general Nelson Werneck Sodré teve os seus direitos políticos cassados por dez anos pela Junta Militar que assumiu o poder. Sofrer a cassação não tinha desdobramentos apenas político-eleitorais. A posterior regulamentação das punições ampliou os seus efeitos, impedindo este militar humanista de lecionar e de escrever artigos para a imprensa.
Optou por não se exilar e dedicou-se, nos anos seguintes, a resistir da única forma que lhe parecia ser possível: escrevendo. Como os demais meios de comunicação lhe foram interditados, passou a escrever livros. Escrevendo em período integral, e sem contar a reedições, Sodré publicou quatro títulos em 1965: Ofício de Escritor, O Naturalismo no Brasil, As Razões da Independência e A História Militar do Brasil. 
Mais à frente, em 1994, vivendo o Brasil o ambiente democrático, publicou A Fúria de Calibã, história da ofensiva reacionária

Vítimas da Casa da Morte foram jogadas dentro de rio, diz coronel

  • Militar revela à Comissão Estadual da Verdade que corpos foram mutilados e jogados na água em Petrópolis
TÓPICOS DA MATÉRIA:

Fonte: o globo on line.
CHICO OTAVIO 
Publicado: 

Atualizado: 


Casa da morte em Petrópolis
Foto: Custódio Coimbra / O Globo

Casa da morte em Petrópolis Custódio Coimbra / O Globo
RIO — Um rio da Região Serrana, nas proximidades do distrito de Itaipava, foi o destino dos corpos das vítimas da Casa da Morte de Petrópolis. E nada foi feito sem o conhecimento prévio dos generais do regime militar. Em 20 horas de depoimento à Comissão Estadual da Verdade, o coronel reformado Paulo Malhães, de 76 anos, um dos mais atuantes agentes do Centro de Informações do Exército (CIE) nos anos de chumbo, finalmente deu as respostas perseguidas há décadas. Ele também confirmou ter desenterrado e sumido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, morto sob torturas em janeiro de 1971, e explicou como a repressão fazia para apagar os vestígios de suas vítimas.
Um dos trechos marcantes do depoimento é o método de desaparecimento. Para evitar o risco de identificação, as arcadas dentárias e os dedos das mãos eram retirados. Em seguida, o corpo era embalado em saco impermeável e jogado no rio, com pedras de peso calculado para evitar que descesse ao fundo ou flutuasse. Além disso, o ventre da vítima era cortado para impedir que o corpo inchasse e emergisse. Assim, seguiria o curso do rio até desaparecer. Sobre Rubens Paiva, ao GLOBO, Malhães disse que lançou o corpo no mar. À Comissão da Verdade do Rio (CEV), contou que o destino do ex-deputado foi o mesmo rio da Região Serrana onde foram jogados outros desaparecidos políticos:
— É inaceitável que o Exército finja que nada acontece e não se pronuncie. Ele tem obrigação legal e moral de vir a público, confirmar ou desmentir os relatos dele (Malhães) e de outros agentes. Sugiro até ao comandante do Exército que compareça à audiência pública sobre a Casa da Morte, convocada pela Comissão Nacional da Verdade, e esclareça em definitivo o que o povo quer saber — disse Wadih Damous, presidente da CEV.
No domingo, O GLOBO publicou, sob o compromisso de sigilo de fonte, o relato de Malhães sobre a operação que desenterrou o corpo de Rubens Paiva no Recreio dos Bandeirantes e o lançou ao mar, em 1973. Porém, o próprio coronel decidiu assumir publicamente o seu papel no episódio. Ele disse que o corpo foi enterrado inicialmente no Alto de Boa Vista e, posteriormente, levado para o Recreio, de onde o retirou, por ordens do gabinete do ministro do Exército (na época, Orlando Geisel), porque havia risco de vazamento da sua localização dentro da própria repressão.
Veja as principais revelações do depoimento de Malhães sobre a Casa da Morte:
Inês Etienne, a sobrevivente
“Foi decretada a morte dela, mas com fins políticos. Tinha que ser um membro do gabinete do ministro do Exército a fazer, matá-la, para eles — os próprios caras que tiveram a ideia —, tornarem isto público, o ministro cair e subir outro general de Exército que levaria um time todo grande a ser general.”
Casa da Morte de Petrópolis
“E nós não tínhamos só um (aparelho clandestino) em Petrópolis. Nós tínhamos outros mais desviados. Nós queríamos um lugar que fosse tranquilo, que fosse calmo. E a casa de Petrópolis era o ideal. O CIE (Centro de Informações do Exército) tinha controle daquilo. Sabia o que se passava por ali.”
Outro aparelho em Petrópolis
“O aparelho (Casa da Morte) foi transferido. Foi para um (local) que era mais afastado, em Itaipava, uma casa até bonita, na beira do rio. Deve existir. Não funcionou muito tempo não, aí já estava esse negócio de vai, não vai, fica e não fica, o melhor é apagar isso do mapa. Era alugada por algum de nós, mas com outro nome.”
Desaparecimentos de corpos
“Jamais se enterra um cara que você matou. Se matar um cara, não enterro. Há outra solução para mandar ele embora. Se jogar no rio, por exemplo, corre. Como ali, saindo de Petrópolis, onde tem uma porção de pontes, perto de Itaipava. Não (jogar) com muita pedra. O peso (do saco) tem que ser proporcional ao peso do adversário, para que ele não afunde, nem suba. Por isso, não acredito que, em sã consciência, alguém ainda pense em achar um corpo.”
A técnica
“É um estudo de anatomia. Todo mundo que mergulha na água, fica na água, quando morre tende a subir. Incha e enche de gás. Então, de qualquer maneira, você tem que abrir a barriga, quer queira, quer não. É o primeiro princípio. Depois, o resto, é mais fácil. Vai inteiro. Eu gosto de decapitar, mas é bandido aqui (Baixada).”
Rubens Paiva
“Rubens Paiva, calculo, morreu por erro. Os caras exageravam naquilo que faziam, sem necessidade. Ficavam satisfeitos e sorridentes ao tirar sangue e dar porrada. Isso aconteceu com Rubens Paiva. Deram tanta porrada nele que, quando foram ver, já estava morto. Ai ficou o abacaxi, o que fazer? Se faz o que com o morto? Se enterra e se conta este negócio do sequestro. Só que o cara, primeiro, enterrou na estrada que vai para o Alto da Boa Vista. Aí, estavam fazendo a beirada da estrada, cimentando, e o cara viu que eles iam passar por cima do corpo. Foi lá e tirou.”
Destino final de Paiva
“Enterrar, queimar, botar no ácido, que desaparece. Tudo isso passou pela minha cabeça. Mas as dificuldades encontradas para fazer isso, já eram outras. Então, disse: ‘vamos resolver esse problema de modo que não deixe rastro’. Aí surgiu essa ideia. Discutimos a ideia e achamos que era a ideia mais viável.”
Prisões clandestinas
“Quando o cara entra no quartel, sabe que está seguro, que ninguém vai matá-lo. Quando você prende ele em uma casa, pensa: ‘Por que me trouxeram para cá e não me levaram para o quartel?’ E a gente ameaçava com isto: ‘Você já viu que você está preso, mas não está preso no quartel. Você está preso em uma casa. Daqui você pode ir para qualquer lugar. Aqui você não está inscrito em nada.”
Cadeia de comando
“Ele (o ministro) era sempre informado. Estava sabendo. Relatórios eram feitos e entregues ao chefe da seção com os EEI, Elementos Essenciais de Informações. Então, através desses EEI, eles sabiam tudo.”
Interrogatórios
“Aprendi que um homem que apanha na cara não fala mais nada. Você dá uma bofetada e ele se tranca. Você passa a ser o maior ofensor dele e o maior inimigo dele. A rigidez é o volume de voz, apertar ele psicologicamente, sobre o que ele é, quais são as consequências. Isto sim. Tudo isto é psicológico. Principalmente quando houve outros casos, né? Fulano foi preso e sumiu. Ele não é preso em uma unidade militar, ele vai para um lugar completamente estranho, civil, vamos dizer assim, uma casa. Ninguém sabe que ele está lá. Não há registro. Tudo isto é coação psicológica.”
Guerrilha
“Destruímos todas as organizações subversivas porque acabamos com a cabeça delas. Quando você corta a cabeça de uma cobra você acaba com a cobra. Então, este foi o nosso trabalho.”
Sono perdido
“Poxa, não. Só perdi noite de sono estudando (as organizações de esquerda). Até hoje, estudo.”
Aposentadoria
“Me retraí quando o meu mundo começou a virar. Quando fui sentindo que nós, que tínhamos lutado, e não fomos tantos assim, estávamos perdendo poder. Foi mais ou menos na época do governo Sarney.”
Carreira na repressão
“O DOI (Destacamento de Informações de Operações) é o primeiro degrau. Você entra ali, voando. Aí, se brutaliza, passa a ser igual aos outros, mas depois vai raciocinando e se estruturando. Houve uma mudança da porrada para o choque. Você pode dizer: ‘Foi uma mudança ruim’. Foi não. Não deixava trauma, não deixava marca, não deixava nada. Já foi uma evolução. Ai, você vai caminhando, aprende de outros lugares, também. De outros países, como é feita a coisa. Então, você se torna um outro personagem, um outro cara e, por causa disto, você é guindado a um órgão superior por ser um cara diferente e agir diferente. Tem muito mais amplitude, tem um universo muito maior, aí você se torna um expert em informações.”
Criação do Cisa
“Levamos a ideia do CIE para o Burnier (brigadeiro João Paulo Burnier). Ele mostrou para o ministro (da Aeronáutica, Márcio de Souza Melo), que disse: ‘Poxa que troço! Então funciona’. Aí, fundou o Cisa (Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica. Tanto é que recebi a medalha de Mérito da Aeronáutica. Eu até me senti muito orgulhoso, foi o dia em que eu fiquei mais vaidoso.”


quarta-feira, 19 de março de 2014

O Barão de Itararé e as suas sátiras.

GRANDE PIADA DO BARÃO FOI QUANDO O VICE PRESIDENTE DA REPUBLICA, MELO VIANA,  MINEIRO E VERDADEIRO CRIADOR DA UFMG, LEVOU UM TIRO EM MONTES CLAROS POR UM JAGUNÇO DA TIBURTINA.
O PRINCIPAL MATUTINO DO RIO, A MANHÃ, ESTAMPOU A MANCHETE: "ALVEJADO O VICE PRESIDENTE DA REPÚBLICA".
O BARÃO SATIRIZOU A NOTÍCIA NO SEU JORNAL VESPERTINO, COMENTANDO: QUE SÓ DAQUELA MANEIRA O VICE PODERIA SER ALVEJADO.
TRATA-SE DE TROCADILHO RACISTA, ALUSIVO À COR MULATA DE MELO VIANA.

Na foto à direita, a frase “entre sem bater” tem uma história: um dia, por motivos políticos, entraram uns policiais no escritório do Barão de Itararé e lhe desceram a porrada “para ele aprender a ser mais respeitoso com as autoridades”. No dia seguinte, usando de inteligente duplo sentido,  ele pôs o aviso na porta. Ele usava também o pseudônimo de Aporelly, mistura de Apparício com Torelly, e Barão de Itararé é uma gozação em que ele criou um título nobiliárquico em cima de uma batalha que não aconteceu, na Guerra do Paraguai.
"O que se leva desta vida é a vida que a gente leva", uma das frases antológicas de Barão de Itararé!
Barão de Itararé
Frases impagáveis do Barão de Itararé
O uísque é uma cachaça metida a besta.
O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
 
A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
 
Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
 
Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
 
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
 
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
 
Não é triste mudar de idéias, triste é não ter idéias para mudar.
 
Mantenha a cabeça fria, se quiser idéias frescas.
 
O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
 
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
 
Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
 
De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
 
Quem dá aos pobres ou empresta, adeus. 
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
 
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
 
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
 
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
 
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
 
Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
 
O fígado faz muito mal à bebida.
 
O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
 
A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
 
Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
 
Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
 
Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
 
Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!
 
Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…
 
Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
 
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
 
Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
Quem não muda de caminho é trem.
 
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.

terça-feira, 18 de março de 2014

Restos de Rubens Paiva teriam sido jogados no mar.

Restos mortais de Rubens Paiva teriam sido jogados ao mar

Os restos mortais do deputado Rubens Paiva teriam sido jogados ao mar em 1973, depois de dois anos enterrados nas areias do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. A revelação foi feita por um coronel reformado, de 76 anos, ao jornal O Globo no momento em que o Ministério Público Federal (MPF) se prepara para denunciar quatro militares envolvidos com a morte do ex-deputado, ocorrida entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1971.
— Pelo estado do corpo, não posso dizer de quem era, nem cabia a mim identificá-lo. Mas o nome que ouvi foi o de Rubens Paiva — disse ao O Globo o coronel que topou dar entrevista sob o compromisso do anonimato.
>>> Saiba mais sobre o caso Rubens Paiva
Conforme a reportagem, o oficial participou de todas as missões importantes do Centro de Informações do Exército (CIE) na chamada "guerra suja", período mais sangrento do regime militar, entre 1969 e 1974. Ele contou que montou uma equipe de 15 homens, disfarçados de turistas, e passou 15 dias abrindo buracos na praia — as escavações eram feitas dentro de uma barraca — até encontrar o corpo ensacado:
— De lá, ele (o corpo) seguiu de caminhão até o Iate Clube do Rio, foi embarcado numa lancha e lançado no mar. Estudamos o movimento das correntes marinhas e sabíamos o momento certo em que ela ia para o oceano.
Em 1987, denúncias anônimas levaram a polícia fluminense a escavar na Praia do Recreio dos Bandeirantes, na tentativa de encontrar o corpo de Paiva. O procedimento foi repetido em 1999, em uma área em frente ao Corpo de Bombeiros no Alto da Boa Vista, com o mesmo objetivo.
— As pistas estavam corretas. O corpo realmente passou por estes lugares, onde já não estava na época das buscas — garantiu o coronel reformado ao O Globo.
Após dois anos de trabalho, o grupo Justiça de Transição, do MPF, deve denunciar os oficiais reformados José Antônio Nogueira Belham, ex-comandante do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I), onde Paiva morreu sob torturas; e Raimundo Ronaldo Campos, que admitiu ter montado uma farsa para forjar a fuga do ex-deputado, além dos irmãos e ex-sargentos Jacy e Jurandyr Ochsendorf, também envolvidos na fraude.
Fonte: zerohora.com.br