terça-feira, 14 de janeiro de 2014

José D. Costa seria o "seu Costa" dos anos 60 que foi a Catolé do Rocha divulgar o marxismo aos estudantes? Leiam a matéria publicada no Jornal de Hoje de Natal/RN.

Aos 81 anos, José Dantas Costa abre o baú para resgatar memórias

Por mais de 50 anos ele alimentou o sonho de transformar a realidade de camponeses esfomeados com um socialismo tropical

José Dantas Costa um dia foi Pavel, um dos dirigentes da seção paraense do PCB. Foto: Divulgação
José Dantas Costa um dia foi Pavel, um dos dirigentes da seção paraense do PCB. Foto: Divulgação
Conrado Carlos
Editor de Cultura
A menos de setecentos metros de alguns dos principais templos religiosos e capitalistas de Natal (a Igreja Universal da Salgado Filho, o Natal Shopping e a Arena das Dunas), mora um ex-comunista. Mas um ex-comunista de fato, com serviços prestados ao partidão em diversas unidades da Federação, com inúmeras prisões no currículo e uma histórica ocupação das margens da rodovia Belém-Brasília, a BR-010, com seus quase dois mil quilômetros de extensão, construída no final dos anos 1950. Hoje um homem com 81 anos de idade, de frágil compleição e traços fidalgos, herdados de antepassados portugueses, franceses e holandeses, José Dantas Costa um dia foi Pavel, um dos dirigentes da seção paraense do PCB. Por mais de cinquenta anos ele alimentou o sonho de transformar a realidade de camponeses esfomeados com um socialismo tropical inspirado na Revolução Popular de Mao Tsé-tung.
Ainda criança, viu com os próprios olhos a semiescravidão que senhores de engenho alagoanos impunham aos trabalhadores de pele escura. Ao abandonar a utopia da juventude, decepcionado com a corrupção de antigos companheiros, adotou a poesia, a fotografia e viagens pelo mundo como novas bandeiras. Em pouco menos de três décadas, percorreu dois terços do planeta em andanças existenciais.
Corria o ano de 1932 e Marechal Deodoro, a primeira capital de Alagoas que, ironicamente, tomou emprestado o nome do primeiro presidente do Brasil vivia um clima pesado, com famílias tradicionais em pé de guerra.
Uma época violenta, em que disputas por terra e pela honra terminavam em mortes com revide garantido. Foi nesse ambiente que Sr. Dantas nasceu. Mal chegou à adolescência e seus pais o enviaram a Maceió, já promovida ao posto de maior município de um dos Estados mais pobres do país. A casa de um tio foi seu destino. Foi matriculado em uma escola industrial e mantido longe de outro irmão de seu pai que comandava as ‘ideias revolucionárias’ no núcleo familiar.  “Eu entrei cedo no Partido Comunista. Ainda estava na escola. Com o avanço dos direitos sociais que Getúlio Vargas copiou do fascismo italiano, vi que a vida dos camponeses poderia ser bem melhor. E como em minha família tinham vários membros do PC, foi um caminho natural que segui”. Os meros 15 anos vividos forneciam a disposição para intercalar agitações de rua com anseios púberes que o levaram à farra. “Garotos do interior sempre foram mais vivos, por isso eu perdi a virgindade muito jovem”.
Em outubro de 1947 o Brasil rompeu relações com a União Soviética e ser comunista virou um tormento. Surpreso com a vigente caçada, Sr.
Dantas estreou em uma prisão. Participava de uma movimentação na Maceió de antanho quando a polícia o prendeu. Foram quinze dias atrás das grades, para desespero de seus pais. “Aquilo foi um desastre na família. Eu era muito querido por todos, mas tinha fama de rebelde.
Quando fui preso foi como se confirmassem tudo o que pensavam a meu respeito”. O fato virou um marco zero na carreira de militante de esquerda. Nos anos subsequentes, perdeu a conta de quantas vezes visitou cadeias pútridas. “Só em 1964 foram oito vezes”. Abraçado pelo PC, ele virou uma espécie de enviado especial em vários Estados, aonde chegava com a obrigação de desenvolver a organização do partido, obcecado por três pilares pessoais: resistência, conhecimento e dedicação. Para tanto, estudos aprofundados em política e filosofia os credenciaram como peça indispensável no topo da estrutura. Peregrinou temporadas por Vitória, Salvador, Recife e Rio de Janeiro e despertou para a poesia, ao começar a publicar escritos nos jornais sob domínio da Esquerda. Até que o mandaram para Belém do Pará, um lugar então inóspito que seria sua casa pelos próximos trinta e dois anos.
“Naquela época, recebíamos cursos do Partido. Só que não tinha nada de guerrilha, eram cursos intelectuais. Sempre foi uma de minhas premissas, a da não violência. Ocupávamos terras no Pará, mas sem armas, sem agredir ninguém”. Em plena selva Amazônica, o jovem revolucionário aproveitou a fartura de atrativos carnais que todo pedaço de chão distante da civilização tem a oferecer. “Eu caí na gandaia na Amazônia”. Logo ele foi promovido a membro dirigente, o que permitiu sentar à mesa de negociações com gestores paraenses. Era um trabalho de difícil assimilação para os nativos, pois vigorava uma falta de consciência política, para quem os brasileiros apartados dos acontecimentos nacionais e internacionais. Mesmo assim, uma epopeia com 30 mil camponeses foi armada às margens da estrada recém-construída para ligar a capital Belém à cidade projetada por Lucio Costa e Oscar Niemeyer. “Eu falo isso, mas tem gente que acha que é mentira: reunimos trinta mil trabalhadores e ocupamos faixas de terra por toda a rodovia” – durante quatro anos, Sr. Dantas respondeu um processo devido ao episódio, livrando-se apenas ao entrar com recurso no Superior Tribunal Militar. Trabalhava na Petrobras, tinha separado da primeira mulher, com quem teve dois filhos, no momento em que topou vir a Natal.
“O PC no Pará era romântico e um das seções mais avançadas no Brasil. Achávamos realmente que iríamos mudar tudo”. Pavel, ou Sr. Dantas, chega ao Rio Grande do Norte para ocupar um cargo de almoxarife na Petrobras. Sustentou a militância por um tempo, só que desde o Pará tinha perdido o vigor. “O Partido não merecia mais confiança. Podiam nos chamar de tudo, de agitadores, radicais, tudo, menos de que fazíamos parte de algum esquema de roubo e corrupção”. Veio o desencanto que pegou parcela expressiva dos outrora comunistas. Sem ideologia a seguir, concentrou-se nos poemas e foi curtir a aposentadoria ao lado da segunda esposa, a advogada Aninha – mulher de fibra que se divide entre Natal e Belém, onde cuida da mãe enferma. Os temas de seus versos são variados, o que inclui críticas bem humoradas à política atual.
Com um livro preste a ser lançado, ele é moderado ao analisar o governo do PT. “Não existe governo que não tenha coisas positivas. O PT tinha um bom caminho para percorrer, mas houve absurdos nos acordos que o Lula fez. Esse tipo de coisa [acordos com partidos distintos] sempre foi tendencioso para casos de corrupção. Mas sem o apoio dos outros ele jamais poderia governar”.
Filho de uma geração que esnobou seus poetas, Sr. Dantas trava uma luta contra a DMRI, a Degeneração Macular Relacionada com a Idade, uma doença que pode causar cegueira. Seus olhos azuis estão gradativamente sendo atingidos na área nobre e central da retina. A captação de detalhes visuais tem sido cada vez mais difícil. O tratamento tem lhe custado caro no bolso e na paciência. Enquanto isso, novas viagens estão programadas para 2014. Há cerca de um mês ele voltou da Colômbia e do Panamá, e agora planeja conhecer o Equador, uma das poucas nações latino-americanas ausentes de sua lista. “Dizem que o comunista ficou rico”, fala com o sorriso aberto. Como em um poema, cuja manifestação artística parte da fantasia, da verdade ou da pura sensibilidade estética, a trajetória de José Dantas Costa manteve uma estrutura parecida com a rima e a métrica dos melhores versos. Ora alegre, ora triste, como no câncer mortal que vitimou a mãe dos dois filhos, sua vida daria um livro, talvez escrito por Graham Greene, ou um filme de 007. “Como na linguagem política, tudo tem vitórias e atrasos. Existe muita coisa que ainda quero observar e estou totalmente dedicado ao tratamento e pesquisas sobre a doença”.
 
Blog
Ontem o governo cubano divulgou dados sobre a mortalidade infantil na ilha em 2013. Segundo a mídia oficial, foi mais uma vitória na área da saúde, o que sempre foi destacado por eles, desde que chegaram ao poder, 55 anos atrás. Só esqueceram de combinar com Pedro Juan Gutiérrez, um de meus escritores prediletos. No blog (conradocarlos.jornaldehoje.com.br) eu fiz um breve comentário sobre sua obra e como ele retratou o Período Especial, a meia década (1991-1994) mais brutal já vivida pelos conterrâneos de Fidel Castro.
Circuito Verão
A capital do Seridó será a primeira cidade a receber o Circuito Verão, projeto realizado pelo Sistema Fecomércio RN, através do Sesc. Neste final de semana (04 e 05), na bonita Ilha de Santana, das 8h às 22h, com entrada gratuita, uma série de atividades esportivas e culturais, além de serviços na área d