terça-feira, 14 de abril de 2015

09/abr/2012
ás 12:25
Publicado por Robson Pires na categoria

Lançamento de foguete em Caicó. Uma história espetacular…

AstronautaEm Caicó, jovens cientistas e estudantes ficaram de bobeira com a espetacular viagem à Lua e resolveram também construir um foguete: inauguraram, assim, o Programa Espacial Caicoense, sob o comando de Zé Almino, o Astronauta, com a participação de Carlos de Zé Cassiano e Zenóbio de Chico Pedro (in memorian).
A preocupação com o meio-ambiente já era latente naqueles jovens destemidos e visionários empreendedores, porque os foguetes eram construídos com latas de óleo de comida, revestidos de taquari, instalados sobre uma base de lançamentos feita de restos de madeira de construção civil. Tudo ecologicamente correto.
Toda essa megaestrutura subia com uma mistura de pólvora e nitrato de alumínio, queimados com um pavio de 15 centímetros, que era deste tamanho pra dar tempo de correr do local de lançamento ao cara que acendia o pavio.
A experiência – meio tosca, é verdade – possibilitou a construção de cinco foguetes, dos quais quatro tiveram lançamentos bem sucedidos e um que falhou, justamente o que reuniu mais de 80% de população de Caicó dentro do Rio Seridó e sobre a ponte Soldado Francisco Dias.
Antes do grande dia, os cientistas caicoenses fizeram três lançamentos bem sucedidos na Base Aeroespacial do Rio Seridó, quando os foguetes subiram e sumiram no céu azul e sem nuvens de Caicó. Fazia pouco mais de um ano da chegada do homem à Lua.
Com o sucesso da fase experimental, Zé Almino, Carlos de Zé Cassiano e Zenóbio de Chico Pedro resolveram fazer um lançamento para o grande público: a esta altura, os boatos corriam na cidade, dando conta dos foguetes fabricados em Caicó.
A curiosidade da população sobre os lançamentos de foguetes dominava todas as rodas de conversas nas mesas do Bar de Ferreirinha, nas feiras livres, lojas, escolas e nas esquinas da cidade: só se falava naquilo.
Na grande data, em meados de agosto de 1970, o país com o peito estufado pela conquista do Tri-Campeonato da Seleção Brasileira, arma-se o circo para o primeiro lançamento público: a Polícia Militar e o Exército foram mobilizados pra conter a ansiedade do povo com o quarto lançamento do Programa Espacial Caicoense.
Era tanta gente sobre a ponte, que a estrutura ameaçava cair a qualquer momento.
Presentes ao grande evento autoridades como o vice-prefeito Vicente Macedo, o comandante do Batalhão Major Caminha, o delegado Dr. Marcílio, vereadores, o gerente do Banco do Brasil, os guardas fiscais e a plebe rude.
Padre Antenor e o seu fiel escudeiro, Ciriáco, subiram na torre do sino da Igreja de Sant’Ana, o melhor e mais seguro lugar de Caicó para visualizar o grande lançamento, e não permitiram a entrada de mais ninguém naquele espaço privilegiado.
Os dois cinemas da cidade, o São Francisco e o Rio Branco, suspenderam as sessões por absoluta falta de público, as escolas cancelaram as aulas, as repartições públicas decretaram ponto facultativo, o comércio e a indústria liberaram os funcionários para que todos vissem aquela fantástica experiência.
Contagem regressiva: 5…., 4…., 3…, 2…. 1…
Zé Almino tocou fogo no pavio, que queimou lentamente…
A tensão aumentava entre as mais de 20 mil pessoas que presenciavam aquele momento histórico, todo mundo de mãos postas, suando…
De repente, um estrondo…
“Óoohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh”, gritaram todos, em uníssono…
O foguete sobe 1 metro e 80 centímetros, o suficiente para dar um giro de 180 graus sobre si mesmo, e se estatela no leito do rio.
Não houve vítimas, exceto o orgulho ferido daqueles extraordinários cientistas malucos.
Foi a maior vaia que Caicó ouviu.
O último lançamento do Programa Espacial Caicoense ocorreu no dia 7 de setembro de 1970, nas dependências do 1o Batalhão de Engenharia de Construção: incentivados pelo major Caminha (“falhas ocorrem até na NASA”, disse ele aos jovens cientistas caicoenses), Zé Almino, Carlos e Zenóbio colocaram o último foguete em órbita, sem falhas e tendo apenas os militares como testemunhas.
Por Brito JR.
Foto de 1970: Delegado Marcílio, Zé Almino, o foguete (claro!), Zenóbio (de Chico Pedro), Dr. Vicente Macedo e Carlos de Zé Cassiano. No dia do histórico lançamento do foguete que não subiu.

18 Comentários

  1. Anderson Martins disse:
    Eita, seu menino! Só você mesmo meu caro blogueiro e jornalista Robson Pires que, com muito esmero e denodo publica essas maravilhas.Parabéns!!
    Conheço muita gente da foto,inclusive Dr. Vicente foi meu dentista quando morávamos na cidade. Hoje estou no Rio de Janeiro, mas pretendo passar o carnaval por ai ano que vem, se Deus assim permitir.
    É Caicó já na era espacial naquela época!! E viva Caicó!!!
    Um grande abraço.
  2. birro disse:
    meu nobre blogueiro, vc bem que poderia abrir um espaço nesse blog pelo menos uma vez p/ semana p/ postar aguns contos e causos q/ se assucederam em nossa cidade, valeu xerife…………
  3. Emanoel Carlos disse:
    Excelente historia, inclusive estudei na epoca
  4. A AUTORIDADE disse:
    Pois é, quem diria a pacata cidade de Caicó naquela época cheia de cientistas…
    Só faltou o professor Deodato para fechar com chave de ouro!hehehe
    Uma história real e verdadeiramente espetacular!!
    Parabéns pela matéria e pelo colaborador, por isso você é o número 1, ou seja, tem o blog mais visitado do RN.
    Abs e VIVA CAICÓ!!!
  5. Roberto Fontes disse:
    Robson,
    Essa história foi contada no blogue Bar de Ferreirinha, dia 19 de julho de 2009.
    O link é: http://bardeferreirinha.blogspot.com/2009/07/caico-e-corrida-para-conquista-do.html
    Abraço,
    Roberto Fontes
  6. ASTRONAUTA DE MÁRMORE disse:
    Sugiro fabricar outro foguete, bem maior, onde possam acomodar algumas personalidades, beldades, socialaites, autoridades, pseudo-intelectuais, cobras e lagartos desse lugar.
    Mas acho que nem a NASA fabricaria um foguete tão grande…
  7. parabens robson e os cientistas... disse:
    nunca ouvi falar nisso, mas adorei a historia…caico e uma cidade de sorte…ja pensou nos anos 70,uma coisa dessa magnetude…se pros tempos de hoje é conplicado imagina aquele epoca….
  8. Paty-Natal disse:
    Uma verdadeira Odisséia ao Espaço, era isso o que pretendia os cientistas e estudiosos supracitados na excelente matéria.
    Valeu mesmo, pois é sempre bom recordar os velhos tempos…
    Abraço fraternal
  9. José Alberto Brito disse:
    Meu caro Xerife,
    Muitos são os detalhes daquela inusitada prosopopéia espacial a qual também testemunhei. O trio de cientistas e pretensos austronautas, igualmente como os que estiveram na lua, levaram o experimento muito a sério. Na imaginação sem limite daqueles meninos que estavam todos na faixa dos seus 12 ou 13 anos, tinham sonhos, viviam e tentavam realizá-los. Tinham muito em comum, até mesmo o fato de morarem na rua da Rádio Rural de Caicó, que por algum tempo quiseram chamar de a rua dos cientistas. Vivi e convivi com o trio cientista e garanto que se tivessem tido o apoio financeiro, a história seria outra. Acidentes acontecem. Foi assim com um ônibus espacial americano, na base espacial de Alcântara e também nas inesquecíveis areias do rio seridó. Por essas e outras é que não me canso de dizer:
    Há uma Pátria na nossa Pátria, é a terra que nos viu nascer!
    Um abraço saudoso aos conterrâneos.
    José Alberto Brito(Bideco)
    Brasília-DF
  10. Wester disse:
    Meus Amigos,
    Blogueiro Robson Pires,
    Não é por me gabar, mas com o conteúdo desta mensagem fica comprovado que Caicó saiu na frente de muito “paísinho” metido a besta por aí. Este é um documento inédito e que coloca o Brasil, desde 1970, na corrida espacial.
    Um grande abraço deste Caicoense que se ufana de sua gloriosa terra.
    Ramos-São José dos Campos-SP
  11. Filomena disse:
    Esse povo de Caicó tem muita capacidade pra gerar besteirol……pô!!!!!!
  12. pelas caridades!!!!! disse:
    Amigo xerife,vou te dá uma ideia,porque vc num escreve um livro,só com os comentarios dos leitores do seu blog?.Acredito que todos seus leitores concordam.Existem muitas coisas interesantes:tem leitores que escrevem certo tudos nos trinkis;outros escrevem um deus nos acuda com tantos erros,neste item eu estou incluido….porem não deixa de ser uma boa pedida!.Vai ser um sucesso!msm eu garanto ki compro UM.
  13. Rômulo Targino disse:
    Caro xerife, em todas as materias de seu blog essa posso afirmar esta merece o prêmio nobel de jornalismo, parabéns pois retrata fatos de um Caicó feliz, onde se buscava o humor e a ciencia juntos.
  14. pelas caridades!!!!! disse:
    Vamos todos se juntar,os cientisas de caicó e de todo seridó,e juntos construir uma grande nave(fogete),para colocar os politicos copa do mundo que só veem de 4 em 4 anos,e tambem os da terra que só prometem e babam muito o governo do rn…(obs)vamos construir uma que suba e não volte nunca mais!!!.
  15. Elizabeth disse:
    Realmente uma das melhores matérias do vosso conceituado e acessado blog. Caicó tem potencial pra muitas áreas.
    Comentários de norte a sul do país, inclusive do Bideco um dos manda-chuvas dos correios do Brasil que reside em Brasília.
    Parabéns Robson!!
  16. Henrique Araújo disse:
    O que faz ser ainda mais engraçada essa estória é simplesmente ser verdadeira!!!
    Só em Caicó mesmo!!!devia fazer parte de uma série inclusive dramatizada…hahahahahaha
  17. Arlinda disse:
    KKKK! POR ISSO QUE VOCÊ É SEMPRE BEM INFORMADO, XERIFE!!HEHEHE
    BJUS
  18. ALUMÃO NT disse:
    Robson,
    Eu soube que tem um engenheiro ai de Caicó que participa ativamente dos lançamentos aqui na Barreira do Inferno, será que ele tá nesse meio??

sábado, 4 de abril de 2015


Ditadura militar brasileira perseguiu centenas de cientistas



Publicado em 03/04/2015 por Maurício
In – livrepensamento.com\2015
A história de 471 cientistas perseguidos durante a ditadura militar foi pesquisada e, a partir de hoje (31), pode ser consultada no site do Projeto Ciência na Ditadura. Esta é a primeira fase do trabalho feito pelo pesquisador titular da Coordenação de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast) Alfredo TiomnoTolmasquim e pelos professores Gilda Olinto e Ricardo Pimenta, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).
“Quando se completou 50 anos do golpe militar em 2014, nós nos demos conta de que não existia um balanço do impacto da ditadura militar na ciência brasileira. Existem muitos estudos de qualidade do que aconteceu em uma ou outra universidade ou no Instituto de Manguinhos da Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz], mas não havia um panorama completo. Até para dizer quantos foram atingidos e qual impacto [a ditadura] causou na atividade acadêmica do Brasil”, disse Tolmasquim à Agência Brasil.
Ele explicou que os cientistas que foram perseguidos são de diversas áreas, por exemplo, da física, química, matemática, de ciências políticas e da biologia. Para o pesquisador, o mais triste é que entre eles há pessoas que tinham atividade política, alguns professores universitários ligados a partidos políticos, outros ligados ao governo João Goulart.
Além disso, segundo Tolmasquim, existem os que não tinham atividades políticas, mas foram perseguidos por críticas feitas ao regime em comentários a colegas na universidade. Isso, de acordo com pesquisador, era suficiente para que fossem aposentados ou prejudicados na vida acadêmica.
“Em 1965, na Universidade de Brasília, houve um processo forte de demissões. Alguns professores não concordaram e pediram demissão da UnB, muitos deles foram para outras universidades, mas, em 1969, foram demitidos compulsoriamente em uma espécie de revanchismo. Essa era uma característica deste período de repressão. Criar medo e evitar que as pessoas expressassem as suas ideias”, acrescentou.
Tolmasquim acredita que, agora, com a divulgação do site do Ciência na Ditadura, vai começar uma outra etapa da pesquisa com a inclusão de novas informações que podem ampliar tanto o número de atingidos pelo regime quanto acrescentar dados sobre os já identificados, que foram presos, torturados, assassinados, exilados, demitidos, aposentados, submetidos a inquéritos militares ou sofreram boicotes relacionados a trabalhos científicos e intelectuais. “Tem o site, o e-mailciencianaditadura@mast.br e a página no Facebookciencianaditadura. Eu imaginei que o grande atrativo seria o site, mas errei. Na verdade, o número de visitas e de participações por meio do Facebook tem sido muito superior”, disse.
O pesquisador revelou que, durante o desenvolvimento do projeto, foram identificadas pessoas que sofreram violações em sua trajetória acadêmica, como as que prestaram concurso ou concorreram a bolsas de pesquisas e não foram chamadas porque estavam em uma lista de procurados pelos órgãos de repressão. “A nossa ideia com este site é recolher esses depoimentos e estas contribuições para que não fiquem esquecidas”, explicou.
Ele citou o caso da professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), Ana Rosa Kucinski Silva e do marido Wilson Silva, em abril de 1974. Os dois, que integravam a Ação Libertadora Nacional (ALN), foram dados como desaparecidos. A USP chegou a afirmar que houve abandono de emprego. Somente no ano passado, com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, ficou comprovado que foram mortos por agentes da repressão. “Foram assassinados e sumiram. São dois casos de pessoas que foram desaparecidas”.
O projeto apontou ainda a participação de pessoas de dentro das universidades que se aproveitaram do momento de repressão para tirar vantagem. “Houve denúncias, e aconteceu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na época Universidade do Brasil, antiga Faculdade de Filosofia. Tinha um decano que denunciou um grupo de desafetos como uma célula de comunistas dentro da universidade e, depois, se provou que não era verdade. Tentou se aproveitar para ter um ganho acadêmico”, disse.
Na avaliação de Tolmasquim, a troca de informações é fundamental para a ampliação do trabalho e até para a correção das informações. Ele citou o fato de um professor da Faculdade de Medicina da USP, que tinha sido submetido a um inquérito policial militar. “Recebemos uma mensagem de uma pessoa da faculdade dizendo que, na verdade, ele era dedo-duro e acusou várias pessoas da faculdade que foram prejudicadas pelo depoimento dele. Em função disso, retiramos o nome dele. A nossa informação era parcial. Sabíamos que tinha passado pelo IPM [inquérito policial militar], mas não sabíamos o que tinha acontecido a partir daí”.
O site foi lançado hoje, no dia em que se completam 51 anos da instalação da ditadura militar. “Na verdade o golpe militar foi em 1º de abril, mas terminou ficando na história como 31 de março, porque começaram a dizer que não era verdade o golpe militar, porque era 1º de abril [conhecido popularmente como o dia da mentira] e, aí, os militares trouxeram para 31 de março”, disse.
O pesquisador revelou também que, quando os verbetes relativos a cada cientista estiverem mais consolidados, e com mais informações, a ideia é publicar um livro. “Acho que é importante. A nossa ideia é publicar um grande livro de cientistas perseguidos durante o período da ditadura”.

Texto: Cristina Indio do Brasil
Edição: Aécio Amado
Fonte:
Agência Brasil