domingo, 18 de outubro de 2015

CARTA À SENADORA FÁTIMA BEZERRA

                      "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão..."
                                                  Chico Buarque

Excelentíssima   Senhora FÁTIMA BEZERRA
Senadora do Rio Grande do Norte

Proclama-se aos ventos que "o sonho acabou". São os apressados: aqueles que comem cru porque não sabem administrar o tempo. Já dizia um dos fundadores do PT no Estado, o poeta e escritor JOÃO RÉGIS CORTEZ DE LIMA: “No tempo não havia horas, porquanto é uma porta aberta para eternidade”.

E Vossa Excelência sabe muito bem, agora que foi eleita pelo povo potiguar a sua representante no Senado, quanto é difícil o caminho. Muitos desistiram, outros  ficaram  na estrada e poucos chegaram ao topo da montanha. Relembro alguns fatos para evitar o esquecimento:

1979 – abril. Começo do fim da Ditadura Militar. Explode a primeira greve do Magistério Potiguar. À frente da Associação dos Professores estava a professora IRACEMA BRANDÃO, que pertencia a velha guarda e não conhecia os novos métodos de luta sindical: GREVE. O Estatuto do Funcionalismo Público não permitia essa modalidade de luta. A greve continuou e se não teve ganhos materiais, teve imensos ganhos políticos: possibilitou a organização dos funcionários públicos, especialmente dos trabalhadores da Educação, que resultou no atual SINTE. Acompanhei tudo de perto porque fazia parte do Comando de Greve. Também estiveram nessa luta os Professores Vicente Barbosa, Egídio, Iara, Miudinho, Joaquim Gaspar (região do Serídó), José Antenor de Azevedo, Sara Lordão (in memoriam), Nalba Dantas, Erineide Lopes, seu Rodrigues, entre outros.
Foram mediadores entre o Governo e o Magistério os advogados Varela Barca e Hélio Galvão. Depois a Comissão Justiça e Paz ligada à Igreja Católica.
Veio o processo eleitoral e apresentamos uma chapa que foi derrotada pelo professor Manoel Lucena candidato oficial do Governo. Contudo, ganhamos experiência e na eleição seguinte o professor JOSÉ ANTENOR DE AZEVEDO foi eleito e passou a sofrer uma oposição ferrenha dos professores.  Na eleição seguinte vocês ganharam. As lutas travadas desde então foram muitas até chegarmos ao atual piso para o magistério, que representa um avanço para a categoria, mas precisa ser complementado por outras medidas: Escola de tempo Integral, bem equipadas, e pessoal motivado. Se o Brasil tivesse adotado esse modelo idealizado pelo professor DARCI RIBEIRO, a situação seria outra e nós teríamos ultrapassado a Coreia do Sul em todos os índices.

1989 - Desde então partimos para outras lutas: fui assessor do Instituto de Terras – ITERN (1989) onde participei da Comissão Central dirigida por Angel Gabriel Vivalle cidadão chileno que foi Ministro da Reforma Agrária do governo de Salvador Allende. Essa equipe   elaborava os projetos de Reforma Agrária (fazenda Hipólito, em Mossoró foi o primeiro a ser posto em prática na Nova República).
1990 – Estive na Secretaria de Governo e na Fundação da Gestão Pública Integrada assessorando a professora Marlusia Saldanha que tentou por em prática o sonho de uma Gestão Pública Integrada.
1991-1993 – Estive na Fundação Hélio Galvão oportunidade em que idealizei e coordenei o curso LITERATURA POTIGUAR: UMA VISÃO SINCRÔNICA,  destinado aos professores da rede pública.
1993 – Fui convocado pelo Poder Judiciário para organizar a sua memória. Dediquei 10 anos da minha vida a esse projeto, que resultou no Memorial Desembargador Vicente de Lemos: estão organizados os Acervos (fotográficos, bibliográficos, documental, utencilial, idumentarial,etc). Escrevi dois livros sobre esse assunto: História do Poder Judiciário do RN e Ministros Potiguares.
2006 – Junto com outros intelectuais (Anna Maria Cascudo, Manoel Onofre, Livio Oliveira, Racine Santos, Pedro Vicente, Carlos  Gomes, Nelson Patriota) ajudei a organizar     a União Brasileira de Escritores – UBE/RN, sendo eleito por três mandatos (2008-2009, 2010-2011 e 2012-2013) a presidência.
2015 –Retornei à Secretaria de Estado da Educação no dia 09 de Setembro estando lotado na Coordenadoria do Livro – CODESE. Na volta fui bem recebido, porém uma surpresa desagradável: não recebi o meu salário  do mês de Setembro e o de outubro fui informado que também não receberei porque tem um trâmite burocrático a ser seguido (isso é UM ABSURDO.SALÁRIO É ALIMENTO e só o Poder Judiciário pode sustar). Não sou iniciante no serviço público e sim fim de carreira.
 Pesa sobre os meus ombros a guarda de três netas, sendo duas do meu filho FAUSTO GOSSON que morreu por overdose de cocaína aos 28 anos de idade, deixando-me em profunda solidão. Também sou portador do Mal  de Parkinson há dez anos, tomando remédios caríssimos. Como o Estado não garante nada neste país, estou gastando em torno de R$ 1.500,00 com remédios. São medicamentos de uso contínuo. Sem eles não consigo andar.
Por fim, rogo a Vossa Excelência que interfira politicamente junto ao Governador para resolver essa questão uma vez que estou exaurido fisicamente pela doença.  Continuo  acreditando que o sonho não acabou e que os nossos inimigos não estão no poder.
Cordialmente,
EDUARDO GOSSON
E-MAIL:                eduardogosson115@gmail.com
Tel:                      9-8782-3660