quarta-feira, 24 de abril de 2013


Ex-delegado: Folha financiava operações na ditadura; Frias visitava o DOPS, era amigo pessoal de Fleury

publicado em 24 de abril de 2013 às 10:15
Fonte: Viomundo e Substantivoplural.com.br
Cláudio Guerra afirmou que os recursos vinham de bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS, era amigo pessoal de Fleury”
do portal Terra
O ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra afirmou nesta terça-feira, à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, que foi o autor da explosão de uma bomba no jornal O Estado de S. Paulo, na década de 1980, e afirmou que a ditadura, a partir de 1980, decidiu desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a esquerda no País.
“Depois de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o País uma série de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, disse o ex-delegado em entrevista ao vereador Natalini (PV), que foi ao Espírito Santo conversar com Guerra.
No depoimento, Guerra afirmou que “ficava clandestinamente à disposição do escritório do Sistema Nacional de Informações (SNI)” e realizava execuções a pedido do órgão.
Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra afirmou ter feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”, afirmou o ex-delegado, dizendo que, mesmo para ele, as ações eram secretas.
Guerra falou também do Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, a quem acusou de tortura e assassinatos. Segundo ele, Fleury “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a irmandade (grupo de apoiadores da ditadura, segundo ele)”, acusou.
O ex-delegado disse também que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.
“Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.
Guerra disse que recebia da irmandade “por determinadas operações bônus em dinheiro”. O ex-delegado afirmou que os recursos vinham de bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), era amigo pessoal de Fleury”, afirmou.
Segundo ele, a irmandade teria garantido que antigos membros até hoje tivessem uma boa situação financeira.
‘Enterrar estava dando problema’
Segundo Guerra, os mortos pelo regime passaram a ser cremados, e não mais enterrados, a partir de 1973, para evitar “problemas”. “Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Os fornos de Cambahyba.



Fonte: cartacapital.com.br/sociedade/o-algoz-e-o-crematorio/

O algoz e o crematório

Na madrugada de 2 de abril, uma terça-feira, o ex-delegado capixaba Cláudio Guerra, atualmente em liberdade condicional, percorreu por quatro horas os cerca de 250 quilômetros entre Vitória, capital do Espírito Santo, e Campos, no norte do Rio de Janeiro. Foi revisitar a Usina Cambahyba, frequentada por ele nos anos 1970, período em que manteve ativa colaboração com o sistema de repressão da ditadura.
É a terceira visita de Guerra ao lugar desde o lançamento de Memórias de Uma Guerra Suja, livro que reúne depoimentos a Rogério Medeiros e Marcelo Netto. A primeira em companhia de um jornalista (à exceção da equipe dos autores do livro). Na obra, publicada no ano passado, o ex-delegado revelou ter queimado nos fornos da Cambahyba 12 cadáveres de militantes de esquerda torturados até a morte nos porões da ditadura. “Naquela época, vinha aqui e não sentia nada. Hoje me sinto mal pra caramba. Estou falando com você por misericórdia de Deus”, justificou-se.
 Confissões. Em suas memórias, histórias de crimes diversos



Confissões. Em suas memórias, histórias de crimes diversos

Nos escombros da usina, em cujas terras instalou-se um assentamento do MST, Guerra indicou as portas dos fornos onde os corpos eram jogados. “O primeiro foi o Cerveira. Não foi nos primeiros fornos não, foi mais no meio”, recorda-se, em referência ao major Joaquim Pires Cerveira, ex-militante da Frente de Libertação Nacional, “cremado” no início de 1974. Cerveira e o militante João Batista Rita foram presos pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury na Argentina e reenviados ao Brasil. Os dois morreram nas dependências do DOI-Codi do Rio de Janeiro.
Guerra afirma ter acompanhado o transporte dos cadáveres até a porta do forno, em companhia de dois empregados da usina, o capataz Zé Crente, falecido, e o ex-motorista Erval Gomes da Silva, o Vavá, única testemunha viva da queima dos de corpos. Em outros momentos, o ex-delegado não se deu ao trabalho de conferir se os corpos foram para o fogo. Preferia tomar uísque na casa de João Lysandro, o João Bala, filho de Heli Ribeiro Gomes, dono da usina, enquanto Zé Crente e Vavá faziam o serviço.
Todos os corpos foram recolhidos no DOI-Codi carioca, instalado no quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, e na conhecida Casa da Morte, centro de tortura comandado por militares do Exército em Petrópolis, na região serrana fluminense. Segundo Guerra, um 13º corpo também acabaria lançado aos fornos da usina. O tenente do Exército Odilon Carlos de Souza, agente da repressão política, foi morto pelo ex-delegado diante de Bala e Vavá. Motivo: queima de arquivo.
A rotina era a mesma. Guerra estacionava o carro com os cadáveres na casa de Bala, a menos de 500 metros dos fornos. “Os corpos ficavam parados aqui”, mostrou, diante da residência, hoje com novo proprietário. “Quando dava 10-11 horas da noite, o Zé Crente ia lá, deslocava o pessoal de perto da boca do forno para outros lugares. Nós já tínhamos repassado os corpos para o carro da usina. Íamos e jogávamos no fogo.”
Ao rever o local dos crimes, a preocupação do ex-delegado era mostrar a profundidade dos fornos para derrubar os argumentos de outra herdeira da Cambahyba, Cecília Lysandro Gomes Ribeiro, vereadora em Campos. Segundo ela, não caberiam cadáveres nos queimadores. Guerra está certo: cabem.
O ex-delegado retornou a primeira vez à usina em junho passado na companhia do delegado federal Kandy Takahashi, por determinação do então coordenador da Comissão Nacional de Verdade, o ministro do STJ Gilson Dipp. Antes, havia prestado um detalhado depoimento à comissão, quando reafirmou suas ligações nos anos 1970 com o falecido coronel do Exército Freddie Perdigão, do Serviço Nacional de Informações. Manteve ainda a confissão da execução de militantes de esquerda, do assassinato do tenente Souza e da ocultação de cadáveres.
Desde o lançamento de suas memórias, paira uma desconfiança em relação a Guerra. Policial que se tornou bandido sanguinário no Espírito Santo, o ex-delegado se converteu na prisão à Assembleia de Deus. Justifica suas confissões recentes à fé adquirida na cadeia, mas poderia também estar em busca de holofotes no fim da vida. Ou disposto a confundir a apuração real de crimes da ditadura.
Fato ou ficção? Para o procurador Eduardo Santos de Oliveira, as histórias de Guerra são no mínimo verossímeis. Ao lado de quatro colegas do Ministério Público e na presença dos deputados federais Luiza Erundina (PSB-SP) e Jean Wyllys (PSOL-RJ), da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça da Câmara, Oliveira ouviu o ex-delegado por nove horas. Convenceu-se da necessidade de novas investigações e defende que seja feita uma perícia nos fornos em busca de vestígios (restos de ossadas ou dentes). Erundina também se impressionou com a consistência do depoimento. E estranha a falta de “resultados práticos a partir do que vem sendo identificado”.
Contraprova. Guerra queria derrubar a versão da família dona da usina. Os cadáveres cabiam nos fornos. Foto: Marcelo Auler
Contraprova. Guerra queria derrubar a versão da família dona da usina. Os cadáveres cabiam nos fornos. Foto: Marcelo Auler
O procurador parece remar contra a maré. Em Campos, é nítida a tentativa de desqualificar as denúncias. Um exemplo partiu do promotor estadual Marcelo Lessa Bastos. Em agosto do ano passado, diante de um pedido de investigação do caso feito por Jorge Augusto, irmão de Cecília, Bastos apressou-se em tentar enterrar o caso. Sem ao menos ouvir Guerra, segundo o promotor uma “pessoa vinculada à Ditadura Militar (sic), do antigo Dops, portanto, sem nenhuma credibilidade”, rechaçou qualquer investigação, pois considerou as denúncias mera tentativa de autopromoção por meio da exploração do “mito que ainda gravita em torno dos atos praticados por ocasião da Ditadura Militar (sic) de 64, sendo que, como se sabe, os crimes da época foram todos anistiados”. Também achou desnecessário ouvir Vavá, o motorista da família que ajudaria na queima dos corpos.
Bastos concluiu: “A biografia do dono da usina, o já falecido Heli Ribeiro Gomes, pessoa respeitada na sociedade local, torna absolutamente inverossímil a malsinada narrativa, que pode, inclusive, constituir crime de calúnia”.
E o que Vavá, o motorista, tem a dizer? Em maio do ano passado, o delegado federal Takahashi o localizou. De pronto, Vavá negou inclusive conhecer o ex-delegado capixaba. Traiu-se, porém, ao vê-lo via Skype, um sistema que transmite som e imagem pela internet. “Oi Dr. Guerra”, deixou escapulir. “Aí caiu a casa”, diz o ex-delegado.
Takahashi quis levá-lo a Vitória para uma acareação ao vivo. Quem o impediu de ir foi o advogado Carlos Alberto Tavares Senra, acionado após a mulher de Vavá procurar a vereadora Cecília.
O afastamento de Dipp da Comissão da Verdade por motivos de saúde e a promoção de Takahashi para o comando da PF no Rio Grande do Norte levou a denúncia a cair no esquecimento. Sem terminar as investigações, o delegado federal não conseguiu confirmar ou afastar de vez a versão da cremação dos 12 corpos.
O policial federal não duvida, porém, dos eventuais serviços prestados por Guerra à repressão. Colaboração igualmente admitida pelo coronel do Exército Paulo Malhães, que dava expediente na Casa da Morte. Em junho último, em entrevista a O Globo, Malhães admitiu que Guerra atuou sob o comando de Perdigão, mas ressalvou: “É um mentiroso.
A participação do ex-delegado no assassinato de Ronaldo Mouth Queiroz, militante da ALN, morto em abril de 1973 na Avenida Angélica, em Higienópolis, São Paulo, foi confirmada pelo advogado Belisário dos Santos Jr., amigo de Queiroz. Segundo Santos apurou, o capixaba narra detalhes conhecidos apenas por quem realmente participou da operação.

Lista dos militantes queimados por Guerra
Lista dos militantes queimados por Guerra
Sobre as dúvidas a respeito de suas denúncias, Guerra pede uma chance para prová-las e insiste: está pronto para participar de uma acareação não só com Vavá, mas também com Malhães e com o mais notório repressor ainda vivo, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O ex-delegado alega ter se reunido algumas vezes com Ustra. Este nega.
CartaCapital localizou Vavá em Campos. O motorista voltou a negar qualquer participação nos crimes. E desmentiu os relatos do uso da usina para queimar corpos de militantes de esquerda. Seria impossível realizar a operação ou mantê-la sob sigilo, afirma, pois os fornos eram vigiados 24 horas por 12 empregados em cada turno.
Vavá igualmente nega ter conhecido o tenente Souza ou ter presenciado seu assassinato. Apesar das negativas, no diálogo com Guerra pelo Skype, comentou-se sobre a queima de um sofá manchado com o sangue do tenente morto. O motorista pareceu saber do que se tratava.
Por causa desses detalhes, o Ministério Público desconfia da versão de Vavá. “É prematuro afirmar que Guerra imaginou tudo isso. Seu depoimento é verossímil, consistente, coerente. Já o depoimento do Vavá é repleto de inconsistência. Posso afirmar, com minha experiência, que existem coisas que ainda podem ser ditas pelo Vavá”, diz Oliveira.
O procurador guarda um trunfo, o depoimento de um ex-empregado da usina que espontaneamente foi à Procuradoria e relacionou Vavá ao uso de armas e à prática de violência, além de noticiar mortes nas quais recaem suspeitas de envolvimento de integrantes da família Ribeiro Gomes. Oliveira continua disposto a promover uma acareação. “Se o depoimento de Vavá se sustentar, as revelações de Guerra no livro se enfraquecem. Até para decidir se continuamos a investigação, precisamos confirmar ou não nossas suspeitas de que o depoimento do Vavá é inconsistente com os fatos da época.”


segunda-feira, 8 de abril de 2013


ESTRANHA CAMPANHA DE DESAGREGAÇÃO

Venho recebendo, com regularidade, artigos, notas e pronunciamentos de militares brasileiros, alguns ainda na ativa, pondo em descrédito as chamadas Comissões da Verdade, denominando-as pejorativamente de "Comissões da Mentira".
Essa postura, em primeiro lugar, quebra a base fundamental dos militares, que é a disciplina, isto é, nega a fidelidade às posturas legais, fragiliza o Poder constituído, diminui a nacionalidade e põe em risco a paz pública.
Tais notas, artigos etc. em sua totalidade, têm um tom de intolerância e, por trás dos panos, induz a um novo golpe no País, em flagrante desrespeito à Constituição da República Federativa do Brasil.
A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei 12.528/2011 e instalada em maio de 2012 para apurar graves violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. Entretanto, os seus opositores acrescentam que ela tem por objetivo apurar a história dos 500 mortos e desaparecidos nas guerrilhas urbanas e do Araguaia. Nem mesmo sei se só foram esses os vitimados! 
A minha interpretação, data venia, se encaminha para entender que se busca um reexame das ocorrências para verificar se algo foi omitido, o que é muito provável diante da pressão e violência com o que os processos tramitaram nos porões do mêdo e, por tal mister, possam ter obscurecido algumas situações que causaram prejuízos irreversíveis às pessoas, algumas que perderam completamente a própria razão de existir. O que dizer do desaparecimento de Luiz Maranhão Filho e o resultado do inquérito da morte de Wladmir Herzog, onde a Portaria de designação da Comissão já determinava "a apuração do suicídio"? Isso representou a verdade?
Na condição de presidente de uma Comissão da Verdade (a da UFRN), tenho direcionado nosso trabalho para a busca da verdade efetiva, sem retaliações, revanchismo ou grosseria, interpretando documentos e ouvindo relatos de pessoas que atuaram em lados opostos, deixando todos os convidados em total liberdade para seus depoimentos, sendo tratados com respeito, bem diferente da truculência física e psicológica que era constante no tempo da ditadura, até com o sacrifício de vidas humanas.
Não faremos terrorismo contra nenhuma Instituição ou pessoa e já temos, pelo menos, aqui em nosso Estado, dois casos que merecem uma análise mais aprofundada de injustiças possivelmente praticadas pelo autoritarismo, como aliás já foi comprovado no âmbito da UFRN com a Professora Maria Laly, que foi reintegrada graças à confissão do ex-Reitor Genário Fonseca de que a havia obrigado a assinar um pedido de demissão.
Acredito que Comissões da Verdade também poderiam existir no âmbito das forças armadas para apurar quem denegriu o nome glorioso das nossas honradas Corporações Militares, com torturas e mortes em seus espaços físicos. Isso nunca foi da índole dos militares brasileiros, que sempre demonstraram coragem e honra em todas as vezes que foram convocados a garantir a soberania nacional.
Deploro essas notas irreverentes e tendenciosas, verdadeiro desrespeito à cidadania e que precisam ser silenciadas pelas próprias instituições conscientes do seu dever cívico. 
Esse é um primeiro passo ao qual certamente se seguirão outros, como depurar e punir a corrupção nos altos escalões dos governos e criar mecanismos para o povo sair da miséria. 

DOMINGO, 7 DE ABRIL DE 2013

sábado, 6 de abril de 2013


HISTÓRIA VIVA!!!

69 em Catolé do Rocha/PB - histórias que cruzam. Terceira Parte: João Roberto

Imagem 08 – Cruz em homenagem a João Roberto (Açude Olho D’água, Catolé do Rocha/PB, 2011)


Com todo cuidado e respeito adentramos na última parte deste artigo...

Poucos dias antes de serem presos, sem saber que o seriam, os jovens combatentes da liberdade de Catolé do Rocha (vide parte 02 deste texto) receberam uma notícia para eles inesperada e causadora de fortes emoções: um estudante teria morrido em Catolé e seu nome (depois ficaram sabendo) era João Roberto Borges de Souza:


Imagem 09 – João Roberto


Nasceu em João Pessoa/PB, em 14 de outubro de 1946, filho de Eulina Borges de Souza e Francisco Xavier Borges de Souza.
Quando a ditadura militar se implantou no Brasil (1964), ainda não havia completado os 18 anos de idade.
Mesmo com a repressão do governo ditatorial, acabou se tornando uma forte liderança no movimento estudantil. Na Universidade Federal da Paraíba presidiu o Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina e chegou a ser vice-presidente da União Estadual dos Estudantes da Paraíba.
Em épocas tortuosas, a ida para Ibiúna/SP, em 1968, como consequência da militância política, certamente mudou sua vida...

Eram 7h30 da manhã de ontem. Garoa fina e frio intenso. Duzentos e quinze policiais — Força Publica e DOPS — vasculham as matas da serra de São Sebastião à procura dos estudantes participantes do XXX Congresso Nacional da UNE. Uma denuncia os leva até o municipio de Ibiuna. Numa elevação de terreno, os comandados do cel. Divo Barsotti, do 7.o BP de Sorocaba, divisam o acampamento dos estudantes.
A ordem de certo parte rapida. Os soldados procuram posição. Outra ordem é dada e rajadas de metralhadoras são disparadas para o ar. Há principio de correria entre os estudantes e a fuzilaria aumenta, sempre para o ar. Depois, o silencio. Os estudantes rendem-se, mas alguns conseguem fugir em direção à mata virgem. A tropa os cerca, e os policiais do DOPS passam a procurar os lideres. (...) Segundo a policia, cerca de mil prisões são feitas, mas o numero preciso só poderia ser determinado mais tarde. Estava assim encerrado, no inicio, o anunciado 30º congresso da UNE. (Folha de S.Paulo, 13.10.1968)

Durante o percurso da Paraíba até São Paulo, as lideranças estudantis tiveram bastante tempo para imaginar a possibilidade de uma cena como essa ocorrer; e de fato acabou ocorrendo. Junto com João Roberto estavam na viajem apenas sua namorada, Maria do Socorro Moraes, e outra garota. Outros estudantes paraibanos também foram até Ibiúna, mas devido a questões de segurança viajavam separados.
Presos na véspera do aniversário de 22 anos de João Roberto, foram fotografados e fichados pelos órgãos da repressão. Abaixo, ficha do DOPS de Maria do Socorro Moraes, hoje mais conhecida por Jô Moraes, deputada federal de Minas Gerais pelo PCdoB:

 Imagem 10 – Detalhe da ficha no DOPS de Maria do Socorro Moraes; observar acusação (1968)

Ela nasceu em Cabeledo/PB em 09 de agosto de 1946. Assim como o namorado, foi ao congresso da UNE como uma grande liderança do movimento estudantil na Paraíba: presidente do Diretório Acadêmico de Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba e diretora da União Estadual dos Estudantes. Na época do congresso de Ibiúna, ambos eram integrantes da Ação Popular (AP)
Liberados pelo DOPS em São Paulo, acabam voltando para a Paraíba onde continuam com a militância política.
Lembramos que no final de 1968 entra em vigor o AI-5.
Nesse contexto ainda mais repressor, perderam seus direitos através do decreto 477/69 (editado em 26 de fevereiro de 1969) que levou, por assim dizer, o AI-5 para dentro das universidades. Assim, foram proibidos de continuarem seus estudos por alguns anos.
João Roberto foi detido então pela segunda vez no 1° Grupamento de Engenharia de Construção do Exército, em João Pessoa.
Em entrevista para o Jornal do Comércio, “a advogada dos mil processos”, Mércia Albuquerque, nos traz informações sobre a terceira vez em que foi preso, fato ocorrido no primeiro semestre de 1969:

Presos na porta da fábrica de Paulista, João Roberto Borges de Souza (5º ano de Medicina), Maria do Socorro Morais Cardoso, Maria Lívia Alves Coelho e uma terceira não identificada. Chegando no DOPS, João Roberto afirmou ser de Cabedelo-PB, filho de meretriz e criado em rendez-vous daquela cidade e teria ido à fábrica procurar um amigo. Uma das moças alegava ter sido infelicitada há três dias e que ali estava procurando o autor do fato. A outra se dizia mulher de vida fácil. E a terceira dizia que estava procurando emprego. O Dr. Moacir Sales, não conseguindo apurar nada de positivo, determinou a liberação das moças. Horas após a liberação das moças, através da Polícia Federal, Moacir Sales é informado de atividades da Ação Popular e que as moças que acabavam de ser liberadas eram integrantes da AP. João Roberto foi reinquirido “paulatinamente”e informou que o aparelho funcionava na Rua Alto Benjamim, 97 – Fundão. Lá foram presas, Rosa Maria de Araújo Melo e Ana Rita de Castro Almeida. Descobriu-se que João Roberto era um dos componentes da Delegação da AP ao congresso ilegal da UNE, em Ibiúna. Rosa Maria era esposa de Geraldo Magela, também denunciado. Surge o nome de Simeão Almeida Neto que havia participado do congresso da UNE. No aparelho, foi apreendido uma arma calibre 45, cuja posse foi atribuída ao mineiro João Batista Drumond (economista). Ana Rita era esposa de Simeão Almeida. Saiu da delegacia para a maternidade. Deu à luz uma criança 15 dias após a prisão. As três meninas liberadas sumiram. Moacir nunca conseguiu prendê-las (...) (Jornal do Comércio, Recife/PE, 13.02.89)(grifo nosso)

Algumas dessas informações coincidem com outros dados que obtivemos sobre a hoje deputada federal Jô Moraes. Descobrimos que realmente ela foi presa na portaria de uma fábrica têxtil em Pernambuco, em 1969, enquanto distribuía panfletos contra o AI-5. Depois de presa, apresentou nome falso e ficou detida por uma semana e depois liberada; posteriormente a sua identidade foi descoberta e ela condenada à revelia pela justiça militar.
Enquanto isso, o livro “Direito a Memória e a Verdade” afirma que João Roberto permaneceu detido no DOPS em Recife por três meses (no primeiro semestre de 1969). Durante esse tempo sofreu torturas!
Encontramos no depoimento da advogada Mércia Albuquerque (reproduzido mais acima) a afirmação, com nosso destaque, de que “(...) João Roberto foi reinquirido “paulatinamente” e informou que o aparelho funcionava na Rua Alto Benjamim, 97 – Fundão” e que a partir daí a casa onde abrigava seus companheiros foi ocupada e algumas pessoas presas. Em verdade, nunca teremos total certeza se os fatos ocorreram exatamente dessa forma.
No livro “Direito a Memória e a Verdade” existe a afirmação de que “ao ser liberado, foi informado [João Roberto] que estava marcado para morrer e que isto só não ocorreria se passasse a auxiliar os órgãos de repressão política. João Roberto não aceitou a proposta e voltou para a Paraíba”. (pág. 106)(destaque nosso)
No segundo semestre de 1969, mais exatamente em 07 de outubro, vizinhos e familiares afirmam terem testemunhado a prisão de João Roberto quando saia de casa, possivelmente realizada por membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e do CENIMAR (Centro de Informações da Marinha). A família procurou as autoridades do estado, mas não conseguiram informações.
Quatro dias antes de completar 23 anos, exatamente 01 ano depois de ter sido preso pela primeira vez em Ibiúna/SP, em 10 de outubro de 1969 foi noticiada a sua morte

(...) segundo a versão oficial, “em conseqüência de afogamento no açude Olho D’Agua”, no município de Catolé do Rocha, sertão da Paraíba. Após a divulgação dessa notícia, sua família empreendeu verdadeira luta com os agentes policiais para poder enterrá-lo. As autoridades chegaram a informar que ele já havia sido enterrado. A família conseguiu, por fim, ter acesso ao corpo e constatou que ele estava desfigurado por inúmeros ferimentos - hematomas, queimaduras por cigarros e unhas perfuradas. Além disso, João Roberto, filho de família de Cabedelo, cidade portuária, foi criado na beira da praia e sabia nadar muito bem. (Direito a Memória e a Verdade, pág. 106)


É aqui que começa toda nossa história...

Em dezembro de 2011 fomos até Catolé do Rocha para facilitar uma oficina com o título “Construindo Estórias”. No primeiro dia, além de coletarmos variadas fontes sobre a “Guerrilha de Catolé” (vide partes 01 e 02 deste texto), tomamos ciência da existência de uma cruz no Açude Olho D’água, homenagem a João Roberto. Decidimos então fazer uma pesquisa em campo no segundo dia de oficina, e assim o fizemos:


Imagem 11 – Estrada que leva ao atual Distrito de Coronel Maia (Catolé do Rocha/PB)


Saindo de Catolé do Rocha em sentido Patu/RN, percorremos de carro aproximadamente 18Km na PB 325. Na esquerda, entramos na estrada de terra vista acima, e nela percorremos em torno de 6Km até chegarmos no distrito de Coronel Maia (antigamente mais conhecido como Olho D’água). Daí fomos caminhando até o açude, mais ou menos 1,5Km de trilha. No detalhe do mapa abaixo, podemos localizar Catolé do Rocha e a cruz (indicada por uma seta verde). Na foto de satélite mais abaixo (de 2011) podemos ver a estrada de terra, o pequeno distrito e o açude, com seta indicando o local da cruz.

 Imagem 12 – Mapa da Paraíba com localização de Catolé do Rocha e da cruz


Imagem 13 – Foto de satélite com localização da cruz e distrito Coronel Maia

Percebemos que a região ainda hoje é bem isolada, ficando próxima da divisa entre Paraíba e Rio Grande do Norte.
Na cruz, que observamos com bastante cuidado, encontramos as iniciaisJ.R.B.S (nome completo de João Roberto) e a data de 14.10.46 (data de nascimento). Segundo o que descobrimos, uma moradora local, em ato cristão, teria feito e fixado a cruz. 


Imagem 14 – Detalhe da cruz (data de nascimento de João Roberto)

Nessa pesquisa em campo entrevistamos ainda três pessoas, além de Ubiratan Costa que fazia parte do nosso grupo: Francisco Aécio da Silva (70 anos), Alcides Fernandes (66 anos), Avani Fernandes (o gravador não registrou sua idade).
Depois de décadas, aparentemente fomos os primeiros a fazer esse procedimento investigativo: visitar o local de morte e/ou descoberta do corpo.
Descobrimos então que os moradores locais entrevistados tem sua própria versão para os últimos dias de João Roberto em vida; versão que segue nos próximos parágrafos:

João Roberto teria chegado sozinho na comunidade de Olho D’água, ainda vivo, em aparente perfeito estado físico, e totalmente livre.
Foi para esse local inusitado e isolado porque conhecia Bartolomeu (também chamado por Marinaldo ou Bartola) que também estudava em João Pessoa; hoje já falecido. Bartolomeu era filho de Reinaldo (falecido), na época dono das terras onde se situa o Açude Olho D’água (na proximidade de propriedades da família Maia!)
Francisco Aécio da Silva, irmão de Bartolomeu, filho de Reinaldo e hoje proprietário das terras (nascido e criado nesse local), não estava em casa no dia do falecimento de João Roberto (só soube da notícia quando retornou de viagem, uns dois ou três dias depois), mas teria presenciado a chegada dele na casa do seu pai, conforme afirma em depoimento: “(...) eu vi na noite que ele chegou. Ele chegou a boquinha da noite com a mala na mão, empalitozado, lord”, procurando por Bartolomeu.


 Imagem 15 – Casa onde teria chegado e se hospedado (atual distrito de Coronel Maia)

Aí ficou hospedado por alguns dias. Fez algumas vezes a trilha que liga essa casa ao açude de Olho D’água (mais conhecido localmente como Açude Grande, ou Açude de Seu Reinaldo, ou ainda Açude Serrote do Pau). Nessas águas tomou várias vezes banho, observou a paisagem, se deitou ao sol.
Alguns afirmam que nesse intervalo de tempo Bartolomeu chegou, conversou com João Roberto e depois foi para o Rio Grande do Norte se encontrar com uma namorada. Outros afirmam que Bartolomeu nunca chegou e isso gerou certa preocupação em João Roberto que afirmava que se seu amigo não chegasse, ele teria que ir embora.
Nas horas que precederam sua morte, passou um tempo junto com uns pescadores que havia conhecido dias antes, entre eles os irmãos Avaní e Alcides Fernandes. Conversaram um pouco e comeram umas batatas quentes antes de irem embora.
João Roberto ficou, “acocorado”, vestindo apenas uma bermuda, na margem das águas. Do outro lado do açude ficaram algumas mulheres lavando roupa (elas eram moradoras de uma comunidade chamada Paraguai).
Elas teriam visto João Roberto entrando na água e nadando no meio do açude. Depois de um tempo olharam e não o viram mais. Observaram que seus poucos pertences ainda estavam no mesmo local, em terra. Imaginaram então a possibilidade dele ter se afogado.
Prontamente correram para a casa de Reinaldo para avisarem sobre o sumiço do rapaz. Sabendo então do fato, o dono da propriedade mandou chamar Avaní em casa (foi chamado porque era pescador e tinha costume em mergulhar no açude, talvez também Reinaldo soubesse que Avaní estava com João Roberto antes do possível afogamento).
Avaní havia chegado em casa fazia uma ou duas horas, quando chega o portador na notícia, chamando-o para ajudar nas buscas. Seu irmão, Alcides, já estava trabalhando nesse momento e só soube do acontecido horas depois. Avaní corre até o açude e chegando lá percebe que havia muitas pessoas. 

Era estudante (...) ai parece que ele tava mei trapalhado lá nos colégio, nos estudos dele (...) Nós pescando no açude de Reinaldo ali. (...) Nós pescando naquele açude, passava a semana. Ai ele todo dia ia tomar banho, ficava lá pelo rancho, conversava mais nós, as vezes até comia, comia até uma batata, uma coisa. Ai quando foi nesse dia, um dia se sábado, nós ia sair do rancho, que nós só ia na outra semana né, nós ia pra casa. Ai ele ficou lá no açude que ia tomar um banho, lá nos lajero. Eu perguntava ele: “seu João, João Roberto, sabe nadar?” Ele: “sei pouco, sei nadar pouco”. Ai bem! Ele desse jeito ficou lá, sozinho, lá nos lajero. Ai nós vinhemo pra casa. (...) Ai cum poucas horas que eu cheguei, chegou um portador: “seu Reinaldo mandou chamar que tudo indica que o rapaz morreu afogado”. Ai eu digo: “que conversa é essa!?!”. “Tudo indica que as roupas dele tão lá no lajero." (...) Ai nós fomos pra lá. Chegando lá já tinha muita gente, né. O açude até com muita água. (...) Já tinha muita gente lá no açude, uns dentro d’água, mergulhando mas só a toa né. Ai eu disse a ele: “menino, o meio que tem é nós vamos fazer como uma esteira, juntar um bocado, sair mergulhando aqui numa direção quando nós chegar lá no outro lado deve ter algum resultado, né, que se ele foi nesse meio aí”. Ai quando saimo, assim saimo, fizemos assim né. Quando cheguemo lá nas água rasa nada. “Agora vamos voltar de novo, notra região, notra direção de novo”.  Aí nessa virada que nós demos com poucos mergulhos que eu dei topei nele, né. Topei nele, tava no chão, na lama, né. Ai eu pensava que afogado era muito pesado pra subir né. Ai quando eu topei nele eu subi e disse: “menino, traga a canoa que o rapaz tá aqui”. Ai eu pra num perder de rumo, que a gente dentro d’água desapruma né, ai eu mergulhei de novo, aí peguei no braço dele aqui. Subiu bem, bem manerinho. Aquele negócio piano na cabeça dele, nos ouvidos nera. Aquele negócio piano que eu passei foi dia com aquele negócio nos meus ouvidos, aquele chiado direitinho né. (...) Ai nós butemo ele, tiremo ele, butamos na canoa, levamos lá pra o rancho. (...) Ficou lá. “Vamos pra Catolé avisar a polícia”. (...) Nesse tempo era o Tenente Nilton né, tenente puxava pelo uma, a perna. Ele chegou. Ele examinou esse corpo. O açude tinha muita piaba. Onde tinha uma espinhazinha que a piaba beliscou ele ficava cavando assim, escavacando pra ver se era marca (...). Examinou ele demais. Ai “é vamos levar ele lá, lá pra onde ele tava". (...) Ai quando chegou lá em seu Reinaldo, entregaram a bagagem dele, a mala dele. Assim que ele pegou, mexeu, achou logo duas identidades. (...) Ai o tenente disse: “esse rapazinho vem meio desmantelado, com duas identidades” (...)

Avaní afirma ainda que ouviu Reinaldo falando para o Tenente que o próprio João Roberto havia dito que estava “meio atrapalhado nos estudos, lá, na universidade onde ele estudava, parece que houve um negócio com ele lá e ele tava meio assim”. Sobre esse mesmo assunto, Avaní lembra também que o próprio João Roberto disse que estava perto de acabar os estudos mas que tinha "saído fora".
Segundo Avaní, que diz ter visto praticamente todo o corpo de João Roberto, ele não tinha nenhum marca de ferimento, a não ser uns pequenos arranhões superficiais na pele, causados possivelmente pelas “piabas” que beliscaram o corpo, marcas essas que inclusive chamaram atenção do tenente. “A gente não aquentava ta dentro d’água parado que a piaba ficava beliscando (...) fazia sangue” (Avaní).
Nessa versão da história, Avaní e Alcides Fernandes (talvez mais pessoas) foram os últimos que falaram com João Roberto, e as mulheres/lavadeiras foram as últimas que o viram com vida.
Quando chegou a notícia no centro de Catolé do Rocha sobre a morte do estudante na zona rural, houve uma grande agitação, especialmente entre a juventude. Seu corpo foi levado para a cidade e ficou exposto publicamente.
O corpo foi então examinado por dois médicos que não chegaram à um consenso sobre a causa da morte: Dr. Sergio Segundo Maia e Dr. Antônio Benjamim Filho. Um deles dizia que foi ataque do coração.
Avaní teve que prestar duas vezes depoimento à polícia. Acredita que tiraram fotos do corpo.
No seu depoimento para nossa equipe de pesquisa, ele acrescentou ainda que achava que alguém que morresse afogado ficaria com a barriga cheia de água, mas não foi o caso de João Roberto, pelo que percebeu.
Alguns estudantes de Catolé foram observar o corpo (mas só viram o seu rosto) e logo em seguida escreveram a carta que segue abaixo, com as impressões que eles tiveram sobre o acontecimento. Algumas informações na carta podem ser muito valiosas para a elucidação dos fatos, ou pelo menos para levantar mais problemas sobre essa história.

 Imagem 16 – Carta-manifesto datilografada (outubro/1969)(clique na imagem para ler)

De Catolé a família levou o corpo para João Pessoa; mas nunca foram até o açude.

Importante sabermos sobre os últimos dias em vida de João Roberto pois é um caso que muito tem a nos ensinar sobre todo um momento histórico em que viviam os brasileiros.
Certo é que seu corpo foi retirado do Açude Olho D’água em Catolé do Rocha/PB, para esse fato todas as fontes dão a mesma versão! Certo também é que a Ditadura Militar (o Estado Brasileiro) foi a causadora direta da morte do jovem pois, independente da causa mortis, foi a ditadura quem prendeu, torturou, perseguiu, pressionou violentamente João Roberto, levando-o a morte.
Mas o que podemos ficar imaginando é por que alguns moradores do atual distrito de Coronel Maia (onde se localiza o açude Olho D’água) afirmam terem convivido ou pelo menos se encontrado com o jovem estudante por alguns dias, alguns inclusive afirmando que estavam com ele no derradeiro dia de sua vida? Se essa versão não for condizente com a verdade dos fatos, por que pessoas simples e tidas como honestas de Catolé do Rocha afirmam terem visto João Roberto vivo, em liberdade, gozando de uma aparente boa saúde, momentos antes de ter morrido “afogado”? Os moradores das proximidades do Açude Olho D’água seriam outras vítimas da ditadura militar, até hoje tendo que se assumirem como testemunhas de uma versão dada pelos órgãos da repressão? Ou serão testemunhas e narradores fidedignos da história? 

Fim


Fontes (três partes):

- Entrevistas realizadas em pesquisa de campo no Distrito Coronel Maia e no Açude Olho D’água (Catolé do Rocha/PB, dez/2011):
* Francisco Aécio da Silva (70 anos, agricultor)
* Alcides Fernandes (66 anos)
* Avaní Fernandes (agricultor)

- Entrevistas realizadas por Edmilson Júnior (Catolé do Rocha/PB):
* Espedito Figueiredo
* José Luis Soares
* Neto de “Boca Rica”
* Ubiratan Cortez

- Entrevistas escritas, por correspondência, realizadas por Herbert (fevereiro, abril, julho/2012):
* Ubiratan Cortez

- Imagens utilizadas no artigo:
01 – Detalhe da capa do livro BRASIL NUNCA MAIS
02 – (Foto) Turma concluinte do ensino básico no Colégio Dom Vital (Catolé do Rocha/PB, possivelmente 1967)
03 – (Revista) Material da URSS (1967)
04 – (Revista) Material da URSS (1968)
05 - Correspondência da URSS (1969)
06 – (Foto) “Antiga Cadeia Pública” de Catolé do Rocha/PB (não sabemos data da imagem)
07 - Desenho para fabricação caseira de um submetralha (1968)
08 – (Foto) Cruz em homenagem a João Roberto
09 – (Foto) João Roberto
10 - Detalhe da ficha no DOPS de Maria do Socorro Moraes (1968)
11 – (Foto) Estrada que leva ao atual Distrito de Coronel Maia (Catolé do Rocha/PB)
12 – Mapa da Paraíba com localização de Catolé do Rocha e da cruz
13 - Foto de satélite com localização da cruz e Distrito Coronel Maia
14 – (Foto) Detalhe da cruz, com data de nascimento de João Roberto
15 – (Foto) Casa onde teria se hospedado João Roberto (atual distrito de Coronel Maia, Catolé do Rocha/PB)
16 - Carta-manifesto, datilografada em homenagem a João Roberto por ocasião do seu falecimento (escrita por Ubiratan Cortez e assinada com o pseudônimo Tupac Amaru, outubro/1969)

- Declaração de Soltura da Penitenciária Modelo de João Pessoa (João Pessoa/PB, 29 de outubro de 1970)

- Certidão emitida pela Auditoria da 7ᵃ Circunscrição Judiciária Militar (Recife/PE, 19 de julho de 1971)

- Decreto-Lei n° 477/69 (26 de fevereiro de 1969)

- Decreto-Lei n° 510/69 (20 de março de 1969)

- Jornais:
* A Tribuna (Natal/RN, 1991, quatro edições)
* Jornal do Comércio (Recife/PE, 13.02.1989)
* Folha de São Paulo (São Paulo/SP, domingo, 13.10.1968)

- Livros:
* Direito a Memória e a Verdade. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007
* Histórias de meninas e meninos marcados pela ditadura. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2009
* Luta, substantivo feminino. São Paulo: Editora Caros Amigos, 2010
* Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964. Rio de Janeiro: Edições Opção, 1979.

- Matérias publicadas na internet:
* “Há 42 anos, Jô Moraes era presa em Ibiúna” (por Pedro Leão,www.vermelho.org.br, em 14 de outubro de 2010)
* “Jô Moraes” (biografia contida no site oficial da deputada federal por Minas Gerais, Jô Moraes, http://www.jomoraes.com.br/jo.ph)

segunda-feira, 1 de abril de 2013


Gilney Viana lança o livro “João Sem Terra – Veredas de uma luta” no próximo dia 05 de abril, sexta-feira, ás 15:00 horas, na Câmara Municipal do Natal
Sexta-Feira, 05 de abril será lançado o livro João Sem Terra – veredas de uma luta, primeiro título da Coleção Camponeses e o Regime Militar, edição conjunta do Ministério do Desenvolvimento Agrário e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, que será representado por Gilney Viana, Coordenador do Projeto Direito à Memória e à. Verdade da SDH
Na ocasião, o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular , juntamente com o Comitê pela Verdade, Memória e Justiça do Rio Grande do Norte, em parceria com organizações, partidos políticos, mandatos e centrais sindicais, lançam as bases de uma pesquisa sobre o Retrato da Repressão Política no Campo – Rio Grande do Norte 1946 – 1988, para fazer-se um amplo levantamento da questão da repressão no campo potiguar nessa época.
PROGRAMAÇÃO
15:00 – Abertura dos Trabalhos
15:20 – Gilney Viana, O Livro João Sem Terra
16:00 – A Questão Camponesa no RN, do Sindicato do Garrancho a Ditadura Militar de 1964(Professora Brasilia Carlos Ferreira UFRN)
16:30 – José Rodrigues (Sindicalismo Rural)
16:45 – Floriano Bezerra de Araújo (Ligas Camponesas no RN)
17:00 – Ferreira (CENTRU-RN)
17:15 – Valmir (INCRA-RN)
17:30 – Flávio Felipe ( Terra Mar/Comitê pela Verdade RN) – O Projeto RN:Nunca Mais no Campo
17:45 – Debate
18:00 - Encerramento
Contamos com sua presença e divulgação mais ampla

Maiores Informações:                                                                                                       Comitê pela Verdade, Memória e Justiça do RN                                                                               Fones: 9977.8702 e 3211.5428(Roberto Monte) e 9807.5101(Flávio Felipe) Email:enviardados@gmail.com e flafreud@hotmail.com                                           Home Page: www.dhnet.org.br                                                                             Facebook: www.facebook.com/dhnetdh
João Sem Terra - Veredas de uma luta
Autoria: Marcia Camarano
Edição: NEAD/ MDA, SDH e Museu Nacional/URFJ, 2012
Primeiro volume da Coleção “Camponeses e o Regime Militar”, o livro conta a trajetória de João Machado dos Santos, o João Sem Terra, e sua luta na organização de trabalhadores rurais e resistência à ditadura do regime militar.