terça-feira, 15 de março de 2016

O TRISTE FIM
Tomislav R. Femenick

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As revoluções são transformações radicais, que geralmente acontecem de forma violenta, alterando as estruturas políticas, econômicas e sociais de um país. Excepcionalmente, algumas ocorrem de forma pacífica. Essas, via de regra, no transcorrer de décadas; poucas, muito poucas, no espaço de só alguns anos.
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente da República foi, de certa forma, uma revolução; pelo voto, mas foi. O povo votou no ex-operário na busca de um futuro melhor, em que houvesse menos desigualdade econômica e social, com os trabalhadores deixando o limbo dos excluídos e, finalmente, adentrando no campo dos beneficiados na partilha dos bens produzidos pela sociedade. O simples pensar de um representante do PT no Palácio do Planalto era, ao mesmo tempo, o temor das elites e o sonho das massas. O que não se apercebia, por miopia ideológica ou simplesmente por interesses partidários, era que a simples “vontade política” não é suficiente para explodir as velhas estruturas e eclodir, fazer surgir, um novo conjunto de elementos na ordem econômica e social.
Se não vejamos. Internamente temos problemas seculares. Os privilegiados têm uma verdadeira aversão ao povo. Os políticos (há exceções) preferem fazer conchavos a fazer jogo limpo – e disso são exemplos as frequentes adesões e rompimentos de partidos, parlamentares, governadores e prefeitos. Eles trocam de posição como os jogadores de futebol trocam de time: simplesmente por interesses pessoais. Já alguns empresários procuram reduzir ao máximo os salários e direitos dos trabalhadores, esquecendo-se que eles é que são os produtores diretos e que, portanto, têm tanto direito de serem remunerados quanto os donos do capital.
Por outro lado, além das estruturas administrativas, políticas, sociais e econômicas arcaicas, há outros problemas tão graves quando elas. O déficit público, a burocracia governamental, a morosidade do Congresso Nacional, a morosidade do Judiciário, a crise da Previdência, a ameaça constante de volta da inflação e, não menos importante, a globalização e a conjuntura internacional. Essas questões não podem ser resolvidas de forma revolucionária. Se fossem, a União Soviética e as “republica democráticas” do leste europeu não teriam sucumbido sem terem sofrido um só tiro de estilingue, Cuba e Coréia do Norte seriam paraísos terrestres e a China e o Vietnã não teriam dado a guindada capitalista; pois nesses países os Partidos Comunistas, revolucionários por natureza e índole, estavam ou estão no poder.
Ai é que está o impasse. A primeira reação dos novos governantes foi atribuir a causa de todos os problemas a tal da “herança maldita” que teria recebido do governo anterior. Como não era uma revolução pelas armas, ninguém morreu, mas era de se esperar que fossem defenestradas todas as ideias do governo passado. Não foram. Não há diretrizes mais parecidas com as do ministro Pedro Malan (de FHC) do que as do ministro Antonio Palocci (de Lula). O FMI deixou de ser o bicho-papão. As reformas das quais o PT era contra, agora por ele são consideradas necessárias. No duro, no duro, não houve antropofagia. Os adversários foram vencidos, porém suas diretrizes não foram trucidadas.
Entretanto, essa atitude administrativamente zen do PT governo desagradou às facções mais radicais do partido, principalmente a intelectualidade de esquerda que integram os seus quadros. Essas pessoas, oriundas da classe média ou mesmo da burguesia menos nobre, são os críticos mais contundentes do novo PT. Ai não houve jeito, os controladores da agremiação partiram para a autofagia e expulsaram os deputados João Batista Oliveira de Araújo (o Babá), Luciana Genro e João Fontes e a senadora Heloísa Helena, e criaram condição adversa à permanência de outros expoentes da legenda, como o sociólogo Chico de Oliveira, o deputado Fernando Gabeira o jurista Hélio Bicudo, Marina Silva, Marta Suplicy e muitos outros. No início 2005, um grupo de 112 filiados anunciou a saída da organização política, entre eles os economistas Plínio de Arruda Sampaio Jr, Reinaldo Gonçalves, Nildo Ourique e Paulo Gomes e os sindicalistas Jorge Luiz Martins (ex-integrante da Executiva Nacional da CUT), Santino Arruda Silva (presidente da CUT-RN) e Carlos Campos.
Os idealistas são pessoas sonhadoras e são os sonhadores os fazedores de revoluções. E, quando se sonha com esperança que não acontecem, o sonho se transforma em pesadelo. A elite do PT planejou e soube usar táticas e estratégias para chegar ao poder, entretanto alguns dos seus líderes protagonizaram trapalhadas de toda ordem: o “fome zero”, os 10 milhões de empregos prometidos deram lugar a uma política monetarista rígida, símbolo do neoliberalismo antes ferrenhamente atacado pelo partido.
Quando mudaram a política econômica, mudaram para pior. Optaram pelas pedaladas fiscais e desvios de recursos públicos – dos quais o mensalão e o petrolão são exemplos exemplares –, obras faraônicas, pelas meias verdades etc.
Na verdade a revolução petista foi um fogo-fátuo, um falso brilho com glória passageira, algo melancólico. Está terminando com alguns dos seus mais representativos líderes com altos salários oriundos de cargos públicos, outros milionários cuja riqueza não tem origens claras, e outros mais ameaçados de prisão ou presos, estes em companhia de empresários de alto nível e baixa moral.
Quem acreditou e votou no PT não merecia isso.