O TRISTE FIM
Tomislav
R. Femenick
As revoluções são
transformações radicais, que geralmente acontecem de forma violenta, alterando
as estruturas políticas, econômicas e sociais de um país. Excepcionalmente,
algumas ocorrem de forma pacífica. Essas, via de regra, no transcorrer de
décadas; poucas, muito poucas, no espaço de só alguns anos.
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para
presidente da República foi, de certa forma, uma
revolução; pelo voto, mas foi. O povo votou no ex-operário na busca de um
futuro melhor, em que houvesse menos desigualdade econômica e social, com os
trabalhadores deixando o limbo dos excluídos e, finalmente, adentrando no campo
dos beneficiados na partilha dos bens produzidos pela sociedade. O simples
pensar de um representante do PT no Palácio do Planalto era, ao mesmo tempo, o
temor das elites e o sonho das massas. O que não se apercebia, por miopia
ideológica ou simplesmente por interesses partidários, era que a simples
“vontade política” não é suficiente para explodir as velhas estruturas e
eclodir, fazer surgir, um novo conjunto de elementos na ordem econômica e
social.
Se não vejamos.
Internamente temos problemas seculares. Os privilegiados têm uma verdadeira
aversão ao povo. Os políticos (há exceções) preferem fazer conchavos a fazer
jogo limpo – e disso são exemplos as frequentes adesões e rompimentos de
partidos, parlamentares, governadores e prefeitos. Eles trocam de posição como
os jogadores de futebol trocam de time: simplesmente por interesses pessoais.
Já alguns empresários procuram reduzir ao máximo os salários e direitos dos
trabalhadores, esquecendo-se que eles é que são os produtores diretos e que,
portanto, têm tanto direito de serem remunerados quanto os donos do capital.
Por outro lado, além
das estruturas administrativas, políticas, sociais e econômicas arcaicas, há
outros problemas tão graves quando elas. O déficit público, a burocracia
governamental, a morosidade do Congresso Nacional, a morosidade do Judiciário,
a crise da Previdência, a ameaça constante de volta da inflação e, não menos
importante, a globalização e a conjuntura internacional. Essas questões não
podem ser resolvidas de forma revolucionária. Se fossem, a União Soviética e as
“republica democráticas” do leste europeu não teriam sucumbido sem terem
sofrido um só tiro de estilingue, Cuba e Coréia do Norte seriam paraísos
terrestres e a China e o Vietnã não teriam dado a guindada capitalista; pois
nesses países os Partidos Comunistas, revolucionários por natureza e índole,
estavam ou estão no poder.
Ai é que está o
impasse. A primeira reação dos novos governantes foi atribuir a causa de todos
os problemas a tal da “herança maldita” que teria recebido do governo anterior.
Como não era uma revolução pelas armas, ninguém morreu, mas era de se esperar que
fossem defenestradas todas as ideias do governo passado. Não foram. Não há
diretrizes mais parecidas com as do ministro Pedro Malan
(de FHC) do que as do ministro Antonio Palocci (de Lula). O FMI deixou de ser o
bicho-papão. As reformas das quais o PT era contra, agora por ele são
consideradas necessárias. No duro, no duro, não houve antropofagia. Os
adversários foram vencidos, porém suas diretrizes não foram trucidadas.
Entretanto, essa
atitude administrativamente zen do PT governo desagradou às facções mais
radicais do partido, principalmente a intelectualidade de esquerda que integram
os seus quadros. Essas pessoas, oriundas da classe média ou mesmo da burguesia
menos nobre, são os críticos mais contundentes do novo PT. Ai não houve jeito,
os controladores da agremiação partiram para a autofagia e expulsaram os
deputados João
Batista Oliveira de Araújo (o Babá), Luciana
Genro e João Fontes
e a senadora Heloísa Helena, e criaram
condição adversa à permanência de outros expoentes da legenda, como o sociólogo
Chico de Oliveira, o deputado Fernando
Gabeira o jurista Hélio Bicudo, Marina Silva, Marta Suplicy e muitos outros. No início 2005, um grupo
de 112 filiados anunciou a saída da organização política, entre eles os
economistas Plínio de Arruda Sampaio Jr, Reinaldo
Gonçalves, Nildo Ourique e Paulo Gomes e os sindicalistas
Jorge Luiz Martins (ex-integrante da Executiva
Nacional da CUT), Santino Arruda Silva
(presidente da CUT-RN) e Carlos Campos.
Os idealistas são
pessoas sonhadoras e são os sonhadores os fazedores de revoluções. E, quando se
sonha com esperança que não acontecem, o sonho se transforma em pesadelo. A elite do
PT planejou e soube usar táticas e estratégias para chegar ao poder, entretanto alguns dos seus
líderes protagonizaram trapalhadas de toda ordem: o “fome zero”, os 10 milhões
de empregos prometidos deram lugar a uma política monetarista rígida, símbolo
do neoliberalismo antes ferrenhamente atacado pelo partido.
Quando mudaram a política
econômica, mudaram para pior. Optaram pelas pedaladas fiscais e desvios de
recursos públicos – dos quais o mensalão e o petrolão são exemplos exemplares –,
obras faraônicas, pelas meias verdades etc.
Na verdade a revolução petista
foi um fogo-fátuo, um falso brilho com glória passageira, algo
melancólico. Está terminando com alguns dos seus mais representativos líderes
com altos salários oriundos de cargos públicos, outros milionários cuja riqueza
não tem origens claras, e outros mais ameaçados de prisão ou presos, estes em
companhia de empresários de
alto nível e baixa moral.
Quem acreditou e votou no PT não
merecia isso.