segunda-feira, 16 de março de 2015

Qual é a saída para Dilma? Analistas e políticos listam três áreas de atuação

  • Há 9 horas
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(Reuters)
Pressionada pela oposição, por aliados hostis e pelas críticas vindas ruas, a presidente passa pelo pior momento desde que chegou ao Planalto
Acuada pela oposição, por aliados hostis e pelas críticas vindas das ruas ─ inclusive de seus próprios eleitores ─ a presidente Dilma Rousseff enfrenta a maior crise desde que chegou ao Planalto, há pouco mais de quatro anos: tem diante de si a árdua tarefa de superar o isolamento e restaurar a confiança da população em meio a um escândalo de corrupção de grande monta, uma economia fragilizada e ânimos cada vez mais polarizados.
No último domingo, pouco mais de 1 milhão de pessoas (de acordo com as Polícias Militares) saíram às ruas de várias cidades brasileiras para externar sua insatisfação com as políticas do governo, pressionando ainda mais a presidente que deverá se empenhar em encontrar uma solução para a crise.
A BBC Brasil ouviu lideranças sociais, cientistas políticos e parlamentares para entender como a petista pode vencer a prova de fogo por que passa seu governo e assegurar a governabilidade de seu segundo mandato, principalmente após os protestos, a grande maioria a favor de seu impeachment, no último domingo (15).
Segundo eles, a solução passaria por um tripé que inclui recuperar a confiança do seu eleitorado, ampliar o diálogo com a base aliada e retomar o crescimento da economia ─ este último pilar, acreditam, não erradicaria, mas atenuaria as fortes críticas que vem recebendo, sobretudo, de opositores.
"Dilma montou uma "cilada" para si mesma durante a eleição, ao prometer que não mexeria em algumas das conquistas socioeconômicas ocorridas nos últimos anos. Agora, mudou o discurso e tem dificuldade de explicar o ajuste fiscal que, invariavelmente, se viu obrigada a executar, especialmente, para os seus eleitores", afirmou à BBC Brasil Carlos Melo, cientista político e professor-adjunto do Insper.
Na última sexta-feira (13), protestos convocados por entidades ligadas a movimentos sociais, como CUT (Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e UNE (União Nacional dos Estudantes), tomaram as principais cidades do país para defender "os direitos trabalhistas, a Petrobras, a democracia e a reforma política".
Apesar de ter sido chamado nos bastidores de "Blinda Dilma", pelas manifestações de apoio à presidente e por ter ocorrido dois dias antes dos protestos de domingo, o ato não foi "nem a favor nem contra o governo", afirmaram lideranças à BBC Brasil.
"Queremos registrar nossa insatisfação com o rumo que o governo está tomando. Achamos que é necessário fazer ajustes fiscais, mas sem mexer no direito dos trabalhadores. A presidente pedir paciência não resolve o nosso problema. A saída é o diálogo. Não vamos pagar com nosso emprego essa crise que a presidente diz que existe. Ela tem um compromisso assumido conosco durante as eleições", disse à BBC Brasil Adi dos Santos Lima, presidente da CUT-SP, que defende a retirada das MPs (Medidas Provisórias) 664 e 665 que alteraram as regras de acesso a benefícios sociais, como seguro-desemprego, auxílio-doença, pensão por morte, entre outros.
Para a UNE, o protesto de sexta-feira foi uma forma de "pressionar o governo" para rever algumas das medidas tomadas recentemente.
"Nós fomos às ruas e conquistamos essa vitória. Agora seguimos em frente por mais direitos para garantir os 10% do PIB para a educação e para aprovar uma reforma universitária democrática no nosso país", afirmou a presidente da UNE, Vic Barros, após a manifestação.
Segundo Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio, Dilma precisa "urgentemente" reconhecer que "errou", mas ainda tem dificuldades sobre qual estratégia de comunicação adotar junto à opinião pública.
"A presidente Dilma não conseguiu explicar por que mudou o discurso de campanha nem por que a população deve se submeter a tantos sacrifícios. A insatisfação popular não é pelo terceiro turno; ela é objetiva: o governo está tomando medidas impopulares e não resta dúvida de que isso gera uma reação negativa da população", disse ele à BBC Brasil.

Coalizão

(AFP)
Protestos contra Dilma levaram centenas de milhares às ruas em todo o país no domingo (15)
A dificuldade de Dilma em dialogar também é motivo de críticas no universo político.
"Uma das principais falhas da presidente é, sem dúvida, a falta de articulação política. Sem apoio no Congresso, Dilma não consegue tomar medidas que possam garantir sua governabilidade, o que acaba impactando sua popularidade", afirmou à BBC Brasil Paulo Baía, cientista político e professor da UFRJ.
"Ela precisa repactuar sua base aliada, que está completamente fragmentada, e ter como interlocutor o vice-presidente Michel Temer, que é um homem de bom trânsito em todos os setores do Parlamento. Mas ela não o usa como deveria em grande parte devido a seu estilo de governar", acrescentou.
Na opinião de Ismael, da PUC-Rio, a postura unilateral adotada pelo governo, especialmente com o PMDB, explica o impasse político no Congresso, cujo ápice ocorreu quando o presidente do Senado, Renan Calheiros, devolveu a MP que reduz a desoneração da folha de pagamento. Recentemente, de acordo com informações do jornal O Estado de S. Paulo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ameaçou pedir demissão caso o Senado derrubasse o veto à prorrogação até 2042 dos subsídios sobre a energia elétrica para grandes empresas do Nordeste.
"Dilma precisa de apoio político, ou seja, que o PT, o PMDB e a maioria do Congresso defendam o governo. Mas parte expressiva dos parlamentares do PT, o partido da presidente, é contra o ajuste fiscal. O governo errou, principalmente em tentar isolar o PMDB. Não conversa com ninguém e quer impor medidas", disse Ismael.
Para o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), líder do PMDB na Câmara, a discussão tem de ser mais "ampla".
"O que o PMDB deseja é uma participação efetiva no núcleo institucional decisório do governo, deseja ser ouvido para a tomada das decisões estratégicas, políticas e da reformulação das políticas públicas. Mas, infelizmente, não foi dessa forma como esse processo foi conduzido nos últimos tempos", criticou ele à BBC Brasil.
"O PT exerceu uma posição hegemônica no núcleo de decisão política do governo, estremecendo as relações entre o Executivo e o Legislativo e desorganizando a base aliada. Agora, essa relação precisa ser recomposta com diálogo e com a consolidação de uma coalizão verdadeira. Se o diálogo for sincero, e essa é a intenção, não vejo dificuldade para que isso ocorra. Do contrário, de fato, não irá avançar", afirmou.
Já para o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), líder do PSD na Câmara, outro partido da base governista, o Congresso "não pode estar de forma passiva analisando as medidas do governo".
"Queremos uma agenda positiva e propositiva. A presidente precisa ampliar seu núcleo político. Essa ampliação significa ouvir mais opiniões e pensamentos. Como líder do partido, acredito ser importante o estreitamento entre o governo e a base aliada", disse Rosso à BBC.
Na semana passada, o governo deu uma indicação de que estaria aberto a ampliar o diálogo ao incluir ministros de partidos da base, além de chamar outros membros da gestão, para as reuniões de articulação política.
Nominalmente, Dilma citou os ministros Gilberto Kassab (PSD, Cidades), Aldo Rebelo (PC do B, Ciência e Tecnologia) e Eliseu Padilha (PMDB, Aviação Civil). Na ocasião, a petista aproveitou para negar a possibilidade de retirada de Aloizio Mercadante (Casa Civil) da articulação após rumores de que ela estaria insatisfeita com sua atuação.

Oposição

(Reuters)
Saída para Dilma passa por melhor articulação política com o Congresso
Embora considerem "pequena, quase impossível" a possibilidade de Dilma conquistar o eleitorado de oposição, especialistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que a retomada da economia ajudaria a conter os ânimos exaltados dos opositores.
"A possibilidade (de se aproximar do eleitorado de oposição) é muito pequena. Acho que se estabeleceu uma resistência de alguns setores sociais à presidente, ao governo e ao próprio PT. Mas o presidente Lula, é preciso lembrar, teve esse apoio em determinado momento. A própria elite se surpreendeu com ele. É claro que Lula foi favorecido pelo bom momento econômico que o Brasil vivia, especialmente em seu primeiro mandato, mas foi muito hábil politicamente, garantindo uma boa interlocução com setores-chave da economia, como a indústria e os bancos", afirmou Melo, do Insper.
"Mas isso requer, sobretudo, um perfil menos autoritário. Na política, liderança e blindagem são imprescindíveis. E hoje Dilma não tem nenhuma das duas", concluiu.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Toquem os sinos da indignação
(*) Rinaldo Barros
Juro que tentei entrar no espírito da Páscoa, com seus símbolos da chegada de uma nova vida, e disseminar esperanças de renovação para todos. Todavia, a análise do atual cenário que se nos apresenta não permitiu. Senão, vejamos melhor como estamos hoje no Brasil e no mundo.
Ninguém conseguiu “desentupir as veias do sistema financeiro, vítima de trombose", conforme a descrição de Christine Lagarde, a ex-ministra francesa de Economia e atual presidente do FMI.
O noticiário vem sendo o mesmo nos últimos meses: crise financeira, bolsas despencando, bancos e megaempresas indo à bancarrota, desindustrialização, pacotes governamentais tentando injetar estabilidade na economia, no patropi e em diversos outros países. Sempre do ponto de vista do capital. Sempre.
Nada sobre o futuro do trabalhador, nem sobre a redução das margens de lucro (spread) dos bancos, nem sobre a redução das despesas do governo.
Ainda não ouvimos uma palavra, uma análise, um gesto que possa sinalizar uma ação de busca às reais causas da turbulência econômica. Está evidente que a roupa não carece de mais remendos.
Há que se pensar - com sentido de urgência - em uma nova roupa com que se possa vestir a economia. Uma roupagem que abrigue os muitos milhões de miseráveis do Brasil e do mundo.
Um traje que seja desenhado com as linhas da dignidade humana.
O atual sistema político e financeiro do é, sob qualquer ângulo que se analise, insustentável. Um sistema que reproduz um padrão de desigualdade brutal, vitimando milhões de seres humanos, condenando a maioria da população a uma existência física abaixo da linha da pobreza. Escondida pela propaganda.
Para comprovar isso, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) denuncia: a soma da renda das 500 pessoas mais ricas do mundo supera em muito a dos 400 milhões mais pobres.
Em outras palavras, apenas um multimilionário ganha mais do que 1 milhão de pessoas!
Esta constatação serve na medida como epitáfio de um mundo impossível de ser mundo, um mundo constantemente a desafiar o mais comezinho bom senso sobre o que nos reserva o futuro.
A produção mundial segue de vento em popa e carrega consigo o estigma real das desigualdades sociais. Basta que entendamos que atualmente, 80% da produção industrial do mundo são absorvidos por apenas 20% da população que vive nos países mais ricos do hemisfério Norte.
Enquanto a fome é distribuída indiscriminadamente, o bem-estar continua privilégio de uns poucos.
Assuntando cá no meu canto, tentei, então, me convencer que a crise verdadeira é a crise que fará o mundo mergulhar em uma tomada de consciência jamais tentada, é a crise de valores humanos universais. Crise da ética.
Meu anseio por um mundo melhor ressurgiu tão intenso que - ingenuamente – vislumbrei a utopia que ainda é possível construir um mundo sustentável, que nada foi em vão. Um reencantamento, sem dúvida.
Mas, para botar os pés no chão, inventei de fazer um rápido passeio pela juventude contemporânea, passando pelas rádios, TVs e revistas, conferindo as grades de programas destinados às gerações do futuro.
Fiquei impressionado. Um festival de nada com nada. Cabeças vazias pontificando aqui e ali. O único culto a unir diversas faixas de idade, mas dentro do intervalo de 13 a 30 anos, é o culto à beleza-padrão, à saúde física, à beleza dos rostos e dos corpos. A maior vitrine que temos de há quantas anda a nossa juventude pode ser conferida 24 horas por dia (nos canais pagos) e nos horários nobres diários (nos canais abertos) através de programas tipo Big Brother Brasil. Com altos índices de audiência.
Ali (re) conhecemos o pobre linguajar de nossos jovens, a sem cerimônia no uso e abuso de palavras de baixíssimo nível, num clima de muito sexo sem amor, o excesso de gírias, caras e bocas e a falta de conteúdo para defender qualquer que fosse o ponto de vista, acerca de qualquer tema ou assunto.
Sem nem levar em conta o tsunami de corrupção que assola o patropi; o choque de realidade me levou ao temor de que nossa sociedade seja suicida, e que o nosso futuro pode ser a barbárie.
Resumo da ópera: se um dos objetivos de qualquer geração é moldar o processo decisório dos anos à nossa frente, não temos muito a comemorar nem para abastecer nossa carga de esperanças em um mundo melhor, mais humano, saudável e, sobretudo, habitável.
Em plena Páscoa, cansado de tanto “ver triunfar as nulidades”, só vejo desencanto.
Não perguntem por quem os sinos dobram. Toquem os sinos da indignação pela inimaginável miséria presente nos campos, vilarejos e periferias das metrópoles brasileiras.


 (*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

sábado, 7 de março de 2015

Música alta pode levar um bilhão de jovens a surdez; saiba como se proteger

BBC de Londres.
  • 6 março 2015
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Crédito: OMS
A OMS recomenda não usar fones de ouvido durante mais de uma hora por dia, e a um nível baixo. No volume máximo, o máximo permitido são apenas quatro minutos
O barulho está por toda a parte. Mas a epidemia de ruído dos dias atuais acontece, no entanto, em silêncio. Mais especificamente dentro dos fones de ouvido.
Ninguém está a salvo dela, mas o problema, que já se tornou crônico, afeta particularmente os jovens.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que 1,1 bilhão de jovens em todo o mundo correm risco de sofrer perda auditiva devido à exposição ao barulho causada por seus hábitos diários.
Nos países desenvolvidos, a situação é tão grave que, de acordo com estimativas, mais de 43 milhões de pessoas, entre 12 e 35 anos, já sofrem de surdez incapacitante.
Em um relatório publicado por ocasião do Dia Internacional do Cuidado Auditivo, comemorado na última terça-feira, 3 de março, a OMS estimou que 50% dessa faixa etária (12 a 35 anos) está exposta a riscos pelo uso excessivo de tocadores de mp3 e smartphones, e 40% pelos níveis de ruído prejudiciais de discotecas e bares.
Mas como saber quando estamos causando danos, talvez irreversíveis, a nossos ouvidos?
Especialistas avaliam que 85 decibéis (dB) até 8 horas é o nível máximo de exposição sem riscos a que um ser humano pode se submeter. Esse período de tempo diminui na medida em que a intensidade do som aumenta.
Não se trata de uma tarefa fácil, especialmente considerando que o volume de dispositivos de áudio pessoais, como tocadores de mp3, pode variar entre 75 dB e 136 dB no nível máximo.
O relatório da OMS recomenda, contudo, que as pessoas usem esses aparelhos não mais do que uma hora por dia e a um volume baixo.
Já em discotecas e bares, os níveis de ruído podem variar entre 104 dB e 112 dB. De acordo com os parâmetros determinados pelo órgão da ONU, permanecer mais de 15 minutos nesses locais não é seguro. O mesmo se aplica em instalações esportivas, onde o nível de ruído oscila entre 80 dB e 117 dB.
Segundo médicos, a exposição a esses ambientes provoca cansaço nas células sensoriais auditivas. O resultado é a perda temporária da audição ou acúfeno (sensação de zumbido no ouvido).
A capacidade auditiva melhora na medida em que as células se recuperam, mas quando "os sons são muito fortes ou a exposição ocorre regularmente ou de forma prolongada, as células sensoriais e outras estruturas podem ser danificadas permanentemente, causando uma perda irreversível da audição", informa a OMS.
Para se ter uma ideia, uma pessoa que ouve 15 minutos de música a 100 dB está exposta a níveis semelhantes de ruído aos níveis enfrentados por um operário que trabalhe oito horas por dia a 85 dB.

Exposição segura ao som

(OMS)
Segundo a OMS, 85 decibéis (dB) até 8 horas é o nível máximo de exposição sem riscos a que um ser humano pode se submeter
Confira o volume máximo de exposição ao som que a OMS considera seguro:
  • 85 dB: nível de ruído no interior de um carro. Tempo máximo seguro: oito horas.
  • 90 dB: cortador de grama. Tempo máximo seguro: Duas horas e 30 minutos.
  • 95 dB: ruído médio de uma motocicleta. Tempo máximo seguro: 47 minutos.
  • 100 dB: buzina de um carro ou metrô. Tempo máximo seguro: 15 minutos.
  • 105 dB: tocador de mp3 no volume máximo. Tempo máximo seguro: Quatro minutos.
No relatório, a OMS também fez algumas recomendações para quem pretende proteger a audição. São elas:
  • Mantenha o volume baixo.
Regule o volume de seu tocador de mp3 para que nunca exceda 60% do volume total. Use tampões de ouvido toda vez que for a um evento onde o ambiente seja extremamente barulhento, como discotecas ou bares.
  • Limite o tempo gasto em atividades barulhentas.
A duração da exposição ao ruído é um dos principais fatores por trás da perda de audição. É aconselhável fazer breves descansos auditivos e limitar a uma hora diária o uso de fones de ouvido.
  • Preste atenção aos níveis seguros de exposição ao ruído.
Use a tecnologia dos smartphones para ajudá-lo a medir os níveis de exposição ao ruído.
  • Preste atenção aos primeiros sinais de perda de audição.
A OMS recomenda procurar imediatamente um médico se houver dificuldades para ouvir sons agudos, como campainha, telefone ou despertador, ou entender a conversa por telefone e até mesmo em ambientes barulhentos.