sábado, 23 de agosto de 2014
REGISTRO, COM TRISTEZA, NA ESPERANÇA DE QUE NÃO SE REPITA
Ficha de Miriam Leitão (ou Amélia) quando foi presa, em 1972 - Matheus Leitão / Arquivo pessoal
RIO — Dois dias depois de ser presa e levada para o quartel do Exército
em Vila Velha, cidade próxima a capital Vitória, no Espírito Santo, a
jornalista Míriam Leitão, na época militante do PCdoB, foi retirada da
cela e escoltada para o pátio. Seu suplício, iniciado no dia 4 de
dezembro de 1972, até ali já incluía tapas, chutes, golpes que abriram a
sua cabeça, o constrangimento de ficar nua na frente de 10 soldados e
três agentes da repressão e horas intermináveis trancada na sala escura
com uma jiboia. A caminho do pátio escuro, os torturadores avisaram que
seria último passeio, como se a presa estivesse seguindo para o
fuzilamento.
— Vi minha sombra refletida na parede branca do forte, a sombra de um
corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha sombra projetada
cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova para morrer. Quero
viver”.
Míriam Leitão, 42 anos depois de viver a traumatizante experiência da
tortura nos porões do regime, cedeu aos apelos do jornalista gaúcho Luiz
Cláudio Cunha. Em longo depoimento divulgado nesta terça-feira pelo
portal “Observatório da Imprensa”, ela deu detalhes sobre o que sofreu
no quartel de Vitória, e revelou o nome do chefe da equipe de
torturadores: Pablo. O mesmo codinome usado pelo tenente-coronel Paulo
Malhães, na época agente do Centro de Informações do Exército (CIE), que
contou ao GLOBO, há dois anos, que usava em seus interrogatórios uma
cobra apelidada de “Míriam”.
Quando a reportagem com Malhães foi publicada, Míriam Leitão
emocionou-se e teve vontade de chorar. Ela jamais esqueceu das horas de
terror com a jiboia, período em que procurou não se mexer para não
atrair o réptil. Porém, num primeiro momento, resolveu esconder sua
experiência até dos filhos. Mudou de ideia, recentemente, depois da
divulgação de relatórios produzidos pelas Forças Armadas, a pedido da
Comissão Nacional da Verdade, nos quais Exército, Marinha e Aeronáutica
negaram a ocorrência de “desvios de função” nas suas unidades durante o
regime militar.
— Eu vivi o desvio de função — disse.
Leia a íntegra da matéria do Observatório da Impressa aqui.
A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DE MÍRIAM LEITÃO
“Eu morava numa favela de Vitória, o Morro da Fonte Grande. Num domingo,
3 de dezembro de 1972, eu e meu companheiro na época, Marcelo Netto,
estudante de Medicina, acordamos cedo para ir à praia do Canto, próxima
ao centro da capital. Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha.
É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do
século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria
do Exército, do outro lado da baía.
Eu tinha dado quatro plantões seguidos na redação da rádio Espírito
Santo e já tinha quase um ano de profissão. Eu vestia uma camisa branca
larga, de homem, sobre o biquini vermelho. Caminhando pela Rua Sete em
direção à praia, alguém gritou de repente:
– Ei, Marcelo?
Nos viramos e vimos dois homens correndo em nossa direção com armas. Eu
reconheci um rosto que vira em frente à Polícia Federal. Meu ônibus
sempre passava em frente à sede da PF e eu tentava guardar os rostos.
– É a Polícia Federal – avisei ao Marcelo
Em instantes estávamos cercados. Apareceram mais homens, mais um carro. Voltei a perguntar:
– O que está acontecendo?
Eles nos algemaram e empurraram o Marcelo para o camburão. Era uma
camionete Veraneio, sem identificação. Eu tive uma reação curiosa: antes
que me empurrassem sentei no chão da calçada e comecei a gritar, a
berrar como louca, queria chamar a atenção das pessoas na rua. Mas ainda
era cedo, manhã de domingo, havia pouca gente circulando. Achava que
quanto mais gente visse aquela cena, mais chances eu teria de sair viva.
Como eu berrava, me puxaram pelos cabelos, me agarraram para me colocar
no carro. Eu, ainda com aquela coisa de Justiça na cabeça, reclamei:
– Moço, cadê a ordem de prisão?
O homem botou a metralhadora no meu peito e respondeu com outra pergunta:
– Esta serve?
As algemas eram diferentes, eram de plástico, e estavam muito apertadas,
doíam no pulso. Viajamos sem capuz, eu e Marcelo, em direção a Vila
Velha, onde fica o quartel do Exército. Eu ainda achava que não era nada
comigo, que o alvo era o Marcelo. Ele estava no quarto ano de Medicina e
tinha acabado de liderar a única greve de estudantes do país daquele
ano, que trancou por dois dias as aulas na universidade de Vitória e
paralisou os trabalhos no Hospital de Clínicas. Achei que estava presa
só porque estava indo à praia com o Marcelo.
A Veraneio entrou no pátio do quartel, o batalhão de infantaria. Nos
levaram por um corredor e nos separaram. Marcelo foi viver seu inferno,
que durou 13 meses, e eu o meu. Sobre mim jogaram cães pastores babando
de raiva. Eles ficavam ainda mais enfurecidos quando os soldados
gritavam: “Terrorista, terrorista!”. Pareciam treinados para ficar mais
bravos quando eram incitados pela palavra maldita. De repente, os
soldados que me cercavam começaram a cantar aquela música do Ataulfo
Alves: “Amélia não tinha a menor vaidade/
Amélia é que era mulher de verdade”. Só então percebi que minha prisão
não era um engano. “Amélia” era o codinome que o meu chefe de ala no
PCdoB tinha escolhido pra mim: “Você, a partir de agora, vai se chamar
Amélia”. Quis reagir na hora, afinal não tenho nada de Amélia, mas não
quis discordar logo na primeira reunião com o dirigente.
O comandante do batalhão era o coronel Sequeira [tenente-coronel Geraldo
Cândido Sequeira, que exerceu o comando do 38º BI entre 10 de março de
1971 a 13 de março de 1973], que fingia que mandava, mas não via nada do
que acontecia por lá. O homem que de fato mandava naquele lugar,
naquele tempo, era o capitão Guilherme, o único nome que se conhecia
dele. Ele era o chefe do S-2, o setor de inteligência do batalhão. Todos
os interrogatórios e torturas estavam sob a coordenação dele. Ele
pessoalmente nada fazia, mas a ele tudo era comunicado. Nesse primeiro
dia me deu um bofetão só porque eu o encarei.
– Nunca mais me olhe assim! – avisou.
Fui levada para uma grande sala vazia, sem móveis, com as janelas
cobertas por um plástico preto. Com a luz acesa na sala, vi um pequeno
palco elevado, onde me colocaram de pé e me mandaram não recostar na
parede. Chegaram três homens à paisana, um com muito cabelo, preto e
liso, um outro ruivo e um descendente de japonês. Mandaram eu tirar a
roupa. Uma peça a cada cinco minutos. Tirei o chinelo. O de cabelo preto
me bateu:
– A roupa! Tire toda a roupa.
Fui tirando, constrangida, cada peça. Quando estava nua, eles mandaram
entrar uns 10 soldados na sala. Eu tentava esconder minha nudez com as
mãos. O homem de cabelo preto falou:
– Posso dizer a todos eles para irem pra cima de você, menina. E aqui não tem volta. Quando começamos, vamos até o fim.
Os soldados ficaram me olhando e os três homens à paisana gritavam,
ameaçando me atacar, um clima de estupro iminente. O tempo nessas horas é
relativo, não sei quanto tempo durou essa primeira ameaça. Viriam
outras.
Eles saíram e o homem de cabelo preto, que alguém chamou de Dr. Pablo,
voltou trazendo uma cobra grande, assustadora, que ele botou no chão da
sala, e antes que eu a visse direito apagaram a luz, saíram e me
deixaram ali, sozinha com a cobra. Eu não conseguia ver nada, estava
tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei
naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então,
fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo. Era dezembro, um
verão quente em Vitória, mas eu tremia toda. Não era de frio. Era um
tremor que vem de dentro. Ainda agora, quando falo nisso, o tremor
volta. Tinha medo da cobra que não via, mas que era minha única
companhia naquela sala sinistra. A escuridão, o longo tempo de espera,
ficar de pé sem recostar em nada, tudo aumentava o sofrimento. Meu corpo doía.
Não sei quanto tempo durou esta agonia. Foram horas. Eu não tinha noção
de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali,
sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo. O medo era ainda maior
porque não via nada, mas sabia que a cobra estava ali, por perto. Não
sabia se estava se movendo, se estava parada. Eu não ouvia nada, não via
nada. Não era possível nem chorar, poderia atrair a cobra. Passei o
resto da vida lembrando dessa sala de um quartel do Exército brasileiro.
Lembro que quando aqueles três homens voltaram, davam gargalhadas, riam
da situação. Eu pensava que era só sadismo. Não sabia que na tortura
brasileira havia uma cobra, uma jiboia usada para aterrorizar e que além
de tudo tinha o apelido de Míriam. Nem sei se era a mesma. Se era,
talvez fosse esse o motivo de tanto riso. Míriam e Míriam, juntas na
mesma sala. Essa era a graça, imagino.
Dr. Pablo voltou, depois, com os outros dois, e me encheu de perguntas.
As de sempre: o que eu fazia, quem conhecia. Me davam tapas, chutes,
puxavam pelo cabelo, bateram com minha cabeça na parede. Eu sangrava na
nuca, o sangue molhou meu cabelo. Ninguém tratou de minha ferida , não
me deram nenhum alimento naquele dia, exceto um copo de suco de laranja
que, com a forte bofetada do capitão Guilherme, eu deixei cair no chão.
Não recebi um único telefonema, não vi nenhum advogado, ninguém sabia o
que tinha acontecido comigo, eu não sabia se as pessoas tinham ideia do
meu desaparecimento. Só três dias após minha prisão é que meu pai
recebeu, em Caratinga, um telefonema anônimo de uma mulher dizendo que
eu tinha sido presa. Ele procurou muito e só conseguiu me localizar no
fim daquele dezembro. Havia outros presos no quartel, mas só ao final de
três semanas fui colocada na cela com a outras presas: Angela, Badora,
Beth, Magdalena, estudantes, como eu.
Fiquei 48 horas sem comer. Eu entrei no quartel com 50 kg de peso, saí
três meses depois pesando 39 kg. Eu cheguei lá com um mês de gravidez, e
tinha enormes chances de perder meu bebê. Foi o que médico me disse,
quando saí de lá, com quatro meses de gestação. Eu estava deprimida, mal
alimentada, tensa, assustada, anêmica, com carência aguda de vitamina D
por falta de sol. Nada que uma mulher deve ser para proteger seu bebê
na barriga. Se meu filho sobrevivesse, teria sequelas, me disse o
médico.
– A má notícia eu já sei, doutor, vou procurar logo um médico que me diga o que fazer para aumentar as chances do meu filho.
Mas isso foi ao sair. Lá dentro achei que não havia chance alguma para
nós. Eu era levada de uma sala para outra, numa área administrativa do
quartel, onde passava por outras sessões de perguntas, sempre as mesmas,
tudo aos gritos, para manter o clima de terror, de intimidação. Na
noite seguinte, atravessei a madrugada com uma sessão de interrogatório
pesado, o Dr. Pablo e os outros dois berrando, me ameaçando de estupro,
dizendo que iam me matar. Um dia achei que iria morrer. Entraram no meio
da noite na cela do forte para onde eu
fui levada após esses dois dias. Falaram que seria o último passeio e me
levaram para um lugar escuro, no pátio do quartel, para simular um
fuzilamento. Vi minha sombra refletida na parede branca do forte, a
sombra de um corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha
sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova
para morrer. Quero viver”.
Um dia, um outro militar, que não era nenhum daqueles três, botou um
revólver na minha cabeça e falou: “Eu posso te matar”. E forçou aquele
cano frio na minha testa. Me deu um sentimento enorme de solidão, de
abandono. Eu me senti absolutamente só no mundo. Pela falta de notícias,
imaginava que o Marcelo estava morto. Entendi que iria morrer também e
que ninguém saberia da minha morte, pensei. Mas não quis demonstrar
medo. Lembro que o homem do revólver tinha olhos azuis. Olhei nos seus
olhos e respondi: “Sim, você pode pode me matar”. E repeti, falando
ainda mais alto, com ar de desafio: “Sim, você pode!”
Um dos interrogatórios foi feito na sala do capitão Guilherme, o S-2 que
mandava em todos ali. Era noite, ele não estava, e me interrogaram na
sala dele. Lembro dela porque havia na parede um quadro com a imagem do
Duque de Caxias. Estava ainda com o biquíni e a camisa, era a única
roupa que eu tinha, que me protegia. Nessa noite, na sala, de novo fui
desnudada e os homens passaram o tempo todo me alisando, me apalpando,
me bolinando, brincando comigo. Um deles me obrigou a deitar com ele no
sofá. Não chegaram a consumar nada, mas estavam no limite do estupro,
divertindo-se com tudo aquilo.
Eu estava com um mês de gravidez, e disse isso a eles. Não adiantou.
Ignoraram a revelação e minha condição de grávida não aliviou minha
condição lá dentro. Minha cabeça doía, com a pancada na parede, e o
sangue coagulado na nuca incomodava. Eu não podia me lavar, não tinha
nem roupa para trocar. Quando pensava em descansar e dormir um pouco, à
noite, o lugar onde estava de repente era invadido, aos gritos, com um
bando de pastores alemães latindo na minha cara. Não mordiam, mas
pareciam que iam me estraçalhar, se escapassem da coleira. E, para
enfurecer ainda mais os cães, os soldados gritavam a palavra que
enlouquecia a cachorrada: “Terrorista, terrorista!...”
As primeiras três semanas que passei lá foram terríveis. Só melhorou
quando o Dr. Pablo e seus dois companheiros foram embora. Entendi então
que eles não pertenciam ao quartel de Vila Velha. Tinham vindo do Rio, é
o que chegaram a conversar entre eles, em papos casuais: “E aí, quando
voltarmos ao Rio, o que a gente vai fazer lá...” Isso fazia sentido,
porque o quartel de Vila Velha integra o Comando do I Exército, hoje
Comando do Leste, que tem o QG no Rio de Janeiro.
Quando o trio voltou para o Rio, a situação ficou menos ruim. Eles já
não tinham mais nada para perguntar. Me tiraram da cela da fortaleza e
me levaram para a cela coletiva. Foi melhor. Na cela do forte não havia
janelas, a porta era inteiriça
e minhas companhias eram apenas as baratas. Fiz uma foto minha, agora em 2011, ao lado da porta.
Até que chegou o dia de assinar a confissão, para dar início ao IPM, o
inquérito policial-militar que acontecia lá mesmo, dentro do quartel. Me
levaram para a sala do capitão Guilherme, o S-2, e levei um susto. Lá
estava o Marcelo, que eu pensava estar morto. Os militares saíram da
sala e nos deixaram sozinhos. Quando eu fui falar alguma coisa, o
Marcelo me fez um sinal para ficar calada. Ele levantou, foi até a
parede e levantou o quadro do Duque de Caxias. Estava cheio de fios e
microfones lá atrás. Era tudo grampo.
Depois disso, o Marcelo foi levado para o Regimento Sampaio, na Vila
Militar, no Rio de Janeiro, e lá ficou nove meses numa solitária. Sem
banho de sol, sem nada para ler, sem ninguém para conversar. Foi
colocado lá para enlouquecer. Nove longos e solitários meses... Nós,
todos os presos, e os que já estavam soltos nos encontramos mais ou
menos em junho na 2ª Auditoria da Aeronáutica, para o que eles chamam de
sumário de culpa, o único momento em que o réu fala. Eu com uma barriga
de sete meses de gravidez. O processo, que envolvia 28 pessoas, a
maioria garotos da nossa idade, nos acusava de tentativa de organizar o
PCdoB no estado, de aliciamento de estudantes, de panfletagem e
pichações. Ao fim, eu e a maioria fomos absolvidos. O Marcelo foi
condenado a um ano de cadeia. Nunca pedi indenização, nem Marcelo.
Gostaria de ouvir um pedido de desculpas, porque isso me daria confiança
de que meus netos não viverão o que eu vivi. É preciso reconhecer o
erro para não repeti-lo. As Forças Armadas nunca reconheceram o que
fizeram.
Nunca mais vi o capitão Guilherme, o S-2 que comandou tudo aquilo. Uma
vez ele apareceu no Superior Tribunal Militar como assessor de um
ministro. Marcelo foi expulso do curso de Medicina, após a prisão, e
virou jornalista. Fomos para Brasília em 1977. Por ironia do destino,
Marcelo só conseguiu vaga de repórter para cobrir os tribunais. E lá no
STM, um dia, ele reviu o capitão Guilherme. Depois disso, não soubemos
mais dele. Nem sei se o S-2 ainda está vivo.
O que eu sei é que mantive a promessa que me fiz, naquela noite em que
vi minha sombra projetada na parede, antes do fuzilamento simulado. Eu
sabia que era muito nova para morrer. Sei que outros presos viveram
coisas piores e nem acho minha história importante. Mas foi o meu
inferno. Tive sorte comparado a tantos outros.
Sobrevivi e meu filho Vladimir nasceu em agosto forte e saudável, sem
qualquer sequela. Ele me deu duas netas, Manuela (3 anos) e Isabel (1).
Do meu filho caçula, Matheus, ganhei outros dois netos, Mariana (8) e
Daniel (4). Eles são o meu maior patrimônio.
Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda
aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum
ódio. Não sinto nada disso. Mas, esse gesto me daria segurança no futuro
democrático do país. (Depoimento a Luiz Cláudio Cunha).
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